Vou tentar resumir a minha experiência com LSD que, como sabem, já foi confirmado por alguns mestres Budistas como sendo algo muito parecido aos primeiros bardos depois da "morte".
Embora a "trip" em si tenha demorado horas (sensivelmente das 18 às 04 da madrugada), as experiências em si foram muito mais intensas e a uma escala temporal completamente diferente. Posso dizer já, para perceberem, que tive uma experiencia de morte, morto, e renascimento enquanto ouvi um microondas aquecer a comida (2 minutos?).
Em relação às experiencias completamente metafísicas, acho que posso dividi-las em duas:
A primeira foi a tal de morte e renascimento. Ao inicio sentia muitas dores numa perna e nas costas (e sei que foi também efeito do LSD) ao ponto de quase não conseguir respirar, até que pensei:" Mas porque achas que a dor é tua? Porque achas que a perna é tua?" E fui aí que senti-me mergulhar num abismo.
O "mergulho" em si é muito complicado de explicar. Sentia-me não a "descer" mas sim a implodir, a recolher-me. A partir de certo ponto senti perfeitamente que deixei para trás o meu veiculo mental, a minha racionalidade. Senti-me reconfortado, primordial. Curiosamente a visão que tive foi sair da escuridão (lembro-me perfeitamente de passar por uma membrana) e "caí" no hiper espaço. Sentia-me vazio mas, paradoxalmente, completo.
Fiquei com a sensação que a morte "não tem nada a ver". É como se normalmente vivessemos na periferia de um buraco negro e, há medida que nos vamos aproximando do centro, simplesmente recolhemos para outras dimensões. Não há sensação de morte nem de ausencia, simplesmente recolhemos pacificamente para outras dimensões de consciencia.
Depois senti o processo inverso: a "subir", também como se fosse a sair de um buraco negro e, ao chegar à periferia, voltei a sentir uma realidade parecida com a que normalmente estamos. A sensação de renascimento foi forte e estranha: sentia que tinha renascido como Jesus Cristo (até recordo-me de sentir uma coroa de espinhos e de falar em Cristo). Recordo-me de pensar: "O que aprendeste com este renascimento? Nada... nada... e ria-me". Este nada não é que não tenha aprendido nada. Parece que senti que tudo é uma ilusão, não na medida em que não existe, mas na medida em que não era realmente eu (explico isto melhor na segunda experiencia), daí não ter aprendido "nada" (porque esta dimensão não é a derradeira realidade).
A segunda experiência é mais dificil de explicar. Senti, e vi perfeitamente, que eu era simplesmente consciência (presente mas sem qualquer tipo de corpo ou forma). Mistericamente, a consciencia divagava pelo espaço e juntava o que me pareciam ser pontos de luz. Esses pontos de luz todos juntos faziam as dimensões da realidade (tipo a que estamos agora). Alguém apontou para uma flor e disse-me telepaticamente: "Percebeste?" Ao que respondi "Percebi."
A flor era uma metafora para a existência. Tal como a flor que nasce do subsolo, toda a manifestação nascia do oculto e, subindo ia também abrindo (exatamente igual à questão do buraco negro). Mas nós não eramos a flor, eramos o que dava forma á flor. Esta sensação foi fortissima.
É a mesma coisa que olharmos para uma escultura. Nós não somos a escultura, somos todo o cascalho que entretanto saiu para dar lugar àquela forma. Somos tudo o que envolve a manifestação mas não somos a manifestação em si.
O resto da "trip" foi mais vulgar. Ao olharmos à nossa volta, as cores são muito mais vividas, ouvimos tudo por mais longe que esteja. De olhos fechados, as formas e as cores dos fractais são impossiveis de descrever.
Conseguimos pensar em algo de acordo com a nossa perspectiva, com a perspectiva de outra pessoa e todos os cenarios possiveis e imaginarios, tudo numa fração de um segundo.
Não sei porquê mas todos os pensamentos que tive deram-me vontade de rir. Não rir/chacota mas como se nada, mas absolutamente nada, importasse.
A experiência em nada pode ser comparada com as que tive com a Salvia. Para além de demorar muito mais tempo e ser à base de altos e baixos, senti que transportou-me para algum sitio muito diferente. A Salvia parecia-me muito a sonhos lucidos estranhos. O LSD transportou-me, conscientemente, para outro sitio.