Saturday, June 26, 2010

1ª experiência com Salvia Divinorum (interpretação)



Olá,
Este post é o seguimento directo do anterior, onde tentarei partilhar convosco alguns dos meus pensamentos e sensações originados por ter fumado Salvia.

Como disse no post anterior, fiquei completamente chocado quando apercebi-me que o que tinha visto apenas alguns segundos antes - por mais nitido que tenha sido - não era "verdade". A mudança de cenário, que afectou-me a visão, a audição e a percepção do tempo (calor) - foi fulminante.

Seria possível algo tão real não ser... real? Enquanto estive sob o efeito da Salvia aquela visão era tão ou mais real do que qualquer passagem anterior da minha vida: os sentidos estavam todos a funcionar em pleno e por momento algum apercebi-me que era uma visão. Não tinha nada a ver com aqueles sonhos que normalmente temos em que vemos mal, às vezes não ouvimos, mal pensamos, etc. Era tudo... real.
A par disso, tive um insight: "A ilusão da multiplicidade (todos os "eus", pessoas, animais, plantas, tudo...) nos multiplos universos é simplesmente a Grande Alma a ver tudo de todas as perspectivas."

Segue a transcrição do relato de uma conversa que tive com um amigo meu sobre o assunto. As perguntas dele ficarão a bold e as minhas respostas a itálico.



O seu relato é tão fantástico que me surgiu uma torrente de idéias e perguntas, tentarei colocar apenas as mais básicas, deixando as outras p/ o futuro:

1) Posso estar sendo tendencioso, mas seu relato me deixou a impressão de que voce passou por uma experiência semelhante a um sonho, só que muito mais nítido e de mais fácil memorização. Especialmente no segundo caso, pelo que entendi, parece que voce se transportou p/ um cenário completo e bastante concreto, tal qual num sonho, isso é correto ?


Sim, precisamente.


Outra coisa: se for assim, tratar-se-ia de um sonho lúcido, semi-lúcido ou não-lúcido ?

Não sei. Só sei que era muito mais real (nitido ao nível dos sentidos) do que os sonhos normais.


Ou seja: pareceu-me que voce realmente acreditava estar na Universidade, porém o que gostaria de saber é se, naquele momento, voce se lembrava de ter estado há pouco fumando em casa ou essa recordação de estar fumando em casa também havia desaparecido ?

A recordação de ter fumado em casa, na verdade a fumar em casa, desapareceu completamente. Estava naquele local a fumar e não em minha casa.


Qual era o grau de relativização da consciencia de "estar na Universidae" ? Ocorreu-lhe de algum modo uma interrogação como: "Eu estava há pouco em casa, como vim parar aqui ?" Ou simplesmente pareceu-lhe normal estar ali - sem qualquer senso do contexto todo?

Nunca me ocorreu ter estado em casa a fumar. Alias, não notei praticamente transição nenhuma. Agora, passado sensivelmente uma hora e meia, lembro-me do seguinte: fui à cozinha, acendi o cachimbo, dei um "tiro"/"cachimbada" e comecei a ouvir muito barulho. Como normalmente ouço os meus vizinhos, não fiz caso disso mas agora sei que aquele barulho (pessoas a falar) não eram eles. Quando dei por mim estava a fumar na universidade... entre o barulho e "fumar na universidade" não decorreram mais de 10 segundos.


2)Qdo voce me falou da substância, corri p/ ler algo na Internet. Achei uma matéria até bem detalhada, contando os estágios das experiências de quem fuma. Mas nenhuma daquelas descrições coincide com a sua. Qual será a causa, na sua opinião (será a dosagem, por exemplo) ?

Pois, realmente parece que esta experiência não se encaixa em nada que também li. Como não estou habituado a substâncias psicadélicas, e só fumei haxixe praí 5 vezes há cerca de 8 ou 9 anos, comecei pela dose "padrão": folha normal de Salvia + 1/3 (da quantidade de folha) de extracto 5x. Dei um unico "tiro" e fui teleportado para outra realidade sem me aperceber da transição. Foi tão rapido que, mesmo estando a fumar abaixado (ao nível do fogão) nem perdi o equilibrio.



3)acho muito importante voce ficar atento a qualquer insight ou pensamento, sensações, percepções daqui p/ a frente, pois é possível que voce tenha aberto uma porta cujos frutos amadureçam aos poucos.

Sinceramente tive uma avalanche de pensamentos, aliás, intuíções. Tudo o que li até hoje de Filosofia Oriental fez sentido instantaneamente. Vou dizer-te como abri a minha "porta mental". A experiência marcou-me muito. Quando reparei que estava em casa, de noite e sozinho, a minha mente rejeitou. Essa realidade parecia-me mais ténue (desfocada) do que a que tinha vivido por momentos e, como não notei transição entre realidades, "desconfiei" de estar em casa. Passado um minuto recordei-me que realmente tinha vindo para casa, e tinha decidido fumar.
Isso fez-me pensar muito sériamente em quem realmente serei. Mais, como a outra realidade era igual a esta (ao nivel do cenário e das pessoas) mas sem nunca ter acontecido, fez-me também pensar quem serão realmente os outros. Serão fruto do meu pensamento? Se fosse isso, quem seria eu aos "olhos" de outra pessoa qualquer? Não faz sentido. E então, sem fazer qualquer tipo de esforço, veio-me à mente a ideia: A ilusão da multiplicidade (todos os "eus", pessoas, animais, plantas, tudo...) nos multiplos universos é simplesmente a Grande Alma a ver tudo de todas as perspectivas.



É como se houvesse apenas uma Grande Consciência e toda a multiplicidade de formas e seres, por esses universos infinitos, fossem "olhos" desse Uno. É como se a existência fosse um grande mistério que, ao decorrer apenas numa fracção de segundo, demorasse uma Eternidade a ser vista de todas as perspectivas. Cada perspectiva, cada olho, sou eu, tu, qualquer um de nós. A Grande Alma toma consciência de si mesma através da infinidade de consciências (ilusóriamente) individuais.
A partir daqui, tudo o que li até hoje fez sentido. Tudo... tudo.
Depois de uma profundissima meditação senti que tudo, até a mais simples acção, é extremamente importante porque, embora pareça insignificante é algo que precisa acontecer. Tudo tem valor porque tudo precisa de ser experienciado. Tudo.

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