Olá,
Este post é o seguimento directo do
anterior, onde tentarei partilhar convosco alguns dos meus pensamentos e sensações originados por ter fumado Salvia.
Como disse no post anterior, fiquei completamente chocado quando apercebi-me que o que tinha visto apenas alguns segundos antes - por mais nitido que tenha sido - não era "verdade". A mudança de cenário, que afectou-me a visão, a audição e a percepção do tempo (calor) - foi fulminante.
Seria possível algo tão real não ser... real? Enquanto estive sob o efeito da Salvia aquela visão era tão ou mais real do que qualquer passagem anterior da minha vida: os sentidos estavam todos a funcionar em pleno e por momento algum apercebi-me que era uma visão. Não tinha nada a ver com aqueles sonhos que normalmente temos em que vemos mal, às vezes não ouvimos, mal pensamos, etc. Era tudo... real.
A par disso, tive um insight:
"A ilusão da multiplicidade (todos os "eus", pessoas, animais, plantas, tudo...) nos multiplos universos é simplesmente a Grande Alma a ver tudo de todas as perspectivas."Segue a transcrição do relato de uma conversa que tive com um amigo meu sobre o assunto. As perguntas dele ficarão a
bold e as minhas respostas a
itálico.
O seu relato é tão fantástico que me surgiu uma torrente de idéias e perguntas, tentarei colocar apenas as mais básicas, deixando as outras p/ o futuro:
1) Posso estar sendo tendencioso, mas seu relato me deixou a impressão de que voce passou por uma experiência semelhante a um sonho, só que muito mais nítido e de mais fácil memorização. Especialmente no segundo caso, pelo que entendi, parece que voce se transportou p/ um cenário completo e bastante concreto, tal qual num sonho, isso é correto ?Sim, precisamente. Outra coisa: se for assim, tratar-se-ia de um sonho lúcido, semi-lúcido ou não-lúcido ?Não sei. Só sei que era muito mais real (nitido ao nível dos sentidos) do que os sonhos normais. Ou seja: pareceu-me que voce realmente acreditava estar na Universidade, porém o que gostaria de saber é se, naquele momento, voce se lembrava de ter estado há pouco fumando em casa ou essa recordação de estar fumando em casa também havia desaparecido ?A recordação de ter fumado em casa, na verdade a fumar em casa, desapareceu completamente. Estava naquele local a fumar e não em minha casa. Qual era o grau de relativização da consciencia de "estar na Universidae" ? Ocorreu-lhe de algum modo uma interrogação como: "Eu estava há pouco em casa, como vim parar aqui ?" Ou simplesmente pareceu-lhe normal estar ali - sem qualquer senso do contexto todo?Nunca me ocorreu ter estado em casa a fumar. Alias, não notei praticamente transição nenhuma. Agora, passado sensivelmente uma hora e meia, lembro-me do seguinte: fui à cozinha, acendi o cachimbo, dei um "tiro"/"cachimbada" e comecei a ouvir muito barulho. Como normalmente ouço os meus vizinhos, não fiz caso disso mas agora sei que aquele barulho (pessoas a falar) não eram eles. Quando dei por mim estava a fumar na universidade... entre o barulho e "fumar na universidade" não decorreram mais de 10 segundos.2)Qdo voce me falou da substância, corri p/ ler algo na Internet. Achei uma matéria até bem detalhada, contando os estágios das experiências de quem fuma. Mas nenhuma daquelas descrições coincide com a sua. Qual será a causa, na sua opinião (será a dosagem, por exemplo) ?Pois, realmente parece que esta experiência não se encaixa em nada que também li. Como não estou habituado a substâncias psicadélicas, e só fumei haxixe praí 5 vezes há cerca de 8 ou 9 anos, comecei pela dose "padrão": folha normal de Salvia + 1/3 (da quantidade de folha) de extracto 5x. Dei um unico "tiro" e fui teleportado para outra realidade sem me aperceber da transição. Foi tão rapido que, mesmo estando a fumar abaixado (ao nível do fogão) nem perdi o equilibrio. 3)acho muito importante voce ficar atento a qualquer insight ou pensamento, sensações, percepções daqui p/ a frente, pois é possível que voce tenha aberto uma porta cujos frutos amadureçam aos poucos.Sinceramente tive uma avalanche de pensamentos, aliás, intuíções. Tudo o que li até hoje de Filosofia Oriental fez sentido instantaneamente. Vou dizer-te como abri a minha "porta mental". A experiência marcou-me muito. Quando reparei que estava em casa, de noite e sozinho, a minha mente rejeitou. Essa realidade parecia-me mais ténue (desfocada) do que a que tinha vivido por momentos e, como não notei transição entre realidades, "desconfiei" de estar em casa. Passado um minuto recordei-me que realmente tinha vindo para casa, e tinha decidido fumar.
Isso fez-me pensar muito sériamente em quem realmente serei. Mais, como a outra realidade era igual a esta (ao nivel do cenário e das pessoas) mas sem nunca ter acontecido, fez-me também pensar quem serão realmente os outros. Serão fruto do meu pensamento? Se fosse isso, quem seria eu aos "olhos" de outra pessoa qualquer? Não faz sentido. E então, sem fazer qualquer tipo de esforço, veio-me à mente a ideia: A ilusão da multiplicidade (todos os "eus", pessoas, animais, plantas, tudo...) nos multiplos universos é simplesmente a Grande Alma a ver tudo de todas as perspectivas.
É como se houvesse apenas uma Grande Consciência e toda a multiplicidade de formas e seres, por esses universos infinitos, fossem "olhos" desse Uno. É como se a existência fosse um grande mistério que, ao decorrer apenas numa fracção de segundo, demorasse uma Eternidade a ser vista de todas as perspectivas. Cada perspectiva, cada olho, sou eu, tu, qualquer um de nós. A Grande Alma toma consciência de si mesma através da infinidade de consciências (ilusóriamente) individuais.
A partir daqui, tudo o que li até hoje fez sentido. Tudo... tudo.
Depois de uma profundissima meditação senti que tudo, até a mais simples acção, é extremamente importante porque, embora pareça insignificante é algo que precisa acontecer. Tudo tem valor porque tudo precisa de ser experienciado. Tudo.
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