Logo nos dias seguites à experiência que relatei ontem, algumas coisas começaram a mudar. Na primeira noite aconteceu-me algo inédito: tive duas vezes o mesmo sonho, na mesma noite, coisa que não me recordo de ter acontecido antes. Um dia ou dois depois, voltou a acontecer-me algo também de inédio: tive um pesadelo, acordei, voltei a adormecer e continuei o sonho/pesadelo anterior. Isso serviu para reconhecer que estava a sonhar e acordei. Sinto vontade de associar estas duas novas experiências a ter fumado a planta, porque acho "coincidencia" a mais não ter nada a ver.
Devido a estas três experiencias com Salvia, mais precisamente a toda a meditação que provocou, senti que a minha mente a foi "reprogramada". Notei perfeitamente que tive um "salto" mental. Passei a ver as coisas de uma perspectiva realmente mais elevada. E sim, sinceramente já não faço grande distinção entre "realidade" e mundo onirico. É tudo um continuum, nós é que perdemos muitas vezes a consciencia.
Os meus sonhos ficaram mais vívidos do que sempre. Também comecei a recordá-los com muito mais facilidade. Todas as manhãs, sem praticamente esforço nenhum, lembrava-me de 2 a 5 sonhos que tivera. Como é obvio lembrava-me de mais detalhes nuns sonhos do que outros. Mas a parte interessante nem é essa.
Voltei a ter um sonho "inédito". Lembro-me de tantos detalhes e a própria duração do sonho foi tão grande que parece-me algo completamente diferente. Lembro-me de todos os locais que estive no sonho, todos os diálogos, o que pensei, pormenores como a cor das canetas ou a marca de café dos Bares, o tipo e cor de roupa das pessoas, o cabelo esbranquiçado de algumas personagens, enfim, tudo. Mas o mais estranho é que no próprio sonho, embora tenha começado durante o dia, estendeu-se pela noite, dormi, acordei de manhã e continuei com a minha "vida", seguindo mesmo o que estava a fazer no dia anterior (do sonho).
Estas experiências com Salvia levaram-me a uma enorme introspecção que, embora ainda tivesse muitas "pontas soltas", já tinha algumas certezas:
- As duas experiências mais profundas que tive (até à altura) com a Salvia foram, sem duvida, muito positivas. Trouxeram-me uma visão muito diferente da vida, baseada na experiência e não na "teoria". Objectivamente, as conclusões que tirei foram: a ideia de que existem várias dimensões é verdadeira. a máxima Hérmetica que diz que "O Todo é Mental" é verdadeira. A ideia de que "nós estamos onde está a nossa consciência" é verdadeira. (pelo menos) Muita coisa que já tinha lido sobre Ayahuasca e DMT é verdade. Neste contexto o conceito de "verdade" significa que vai de encontro à minha própria experiência.
- Se as experiências foram positivas, porque ter medo de continuar? Porque, no meu discernimento, ainda subsiste medo, ansiedade, sentido de auto-preservação, etc.
- Asclépio, o deus grego da medicina, assumia a forma de cobra. Na verdade, ainda hoje o simbolo da cobra é usado em todas as farmacias. É em tudo identico ao caduceu de Hermes/Mercurio.
Portanto, e concluindo por agora, este ataque predatório e extremamente intenso da "cobra" é uma cura. A sensação de morte, muito dificil de ultrapassar, é uma morte purificadora. Mas acredita que é muito, muito dificil entregar-me a ela.
Na altura, mal sabia eu que a próxima experiência com Salvia iria ser uma das vivências mais marcantes da minha vida, e uma das mais difíceis de ultrapassar.