Monday, June 28, 2010

O bilhete para Atenas



- Gosto que as palavras que uso estejam relacionadas com os factos. É por isso que me interesso pela eternidade - pela eternidade psicológica. Por se tratar de um facto.
- Para si, talvez - disse Jeremy.
- Para todo aquele que escolha cumprir as condições sob as quais possa ser vivida.
- E porque alguém o desejaria?
- Porque decidira alguém ir a Atenas ver o Parténon? Porque vale a pena. E o mesmo se aplica à eternidade. A experiência do bem intemporal vale todo o esforço que implica.
- O bem intemporal, - repetiu Jeremy desagradado - não sei o que significam essas palavras.
- E porque deveria? - disse o Sr. Propter. - Você nunca comprou um bilhete para Atenas.

Aldous Huxley, Também o Cisne Morre (1939)

Sunday, June 27, 2010

Efeitos psicológicos e mentais da experiência com Salvia



Logo nos dias seguites à experiência que relatei ontem, algumas coisas começaram a mudar. Na primeira noite aconteceu-me algo inédito: tive duas vezes o mesmo sonho, na mesma noite, coisa que não me recordo de ter acontecido antes. Um dia ou dois depois, voltou a acontecer-me algo também de inédio: tive um pesadelo, acordei, voltei a adormecer e continuei o sonho/pesadelo anterior. Isso serviu para reconhecer que estava a sonhar e acordei. Sinto vontade de associar estas duas novas experiências a ter fumado a planta, porque acho "coincidencia" a mais não ter nada a ver.

Devido a estas três experiencias com Salvia, mais precisamente a toda a meditação que provocou, senti que a minha mente a foi "reprogramada". Notei perfeitamente que tive um "salto" mental. Passei a ver as coisas de uma perspectiva realmente mais elevada. E sim, sinceramente já não faço grande distinção entre "realidade" e mundo onirico. É tudo um continuum, nós é que perdemos muitas vezes a consciencia.

Os meus sonhos ficaram mais vívidos do que sempre. Também comecei a recordá-los com muito mais facilidade. Todas as manhãs, sem praticamente esforço nenhum, lembrava-me de 2 a 5 sonhos que tivera. Como é obvio lembrava-me de mais detalhes nuns sonhos do que outros. Mas a parte interessante nem é essa.
Voltei a ter um sonho "inédito". Lembro-me de tantos detalhes e a própria duração do sonho foi tão grande que parece-me algo completamente diferente. Lembro-me de todos os locais que estive no sonho, todos os diálogos, o que pensei, pormenores como a cor das canetas ou a marca de café dos Bares, o tipo e cor de roupa das pessoas, o cabelo esbranquiçado de algumas personagens, enfim, tudo. Mas o mais estranho é que no próprio sonho, embora tenha começado durante o dia, estendeu-se pela noite, dormi, acordei de manhã e continuei com a minha "vida", seguindo mesmo o que estava a fazer no dia anterior (do sonho).



Estas experiências com Salvia levaram-me a uma enorme introspecção que, embora ainda tivesse muitas "pontas soltas", já tinha algumas certezas:
- As duas experiências mais profundas que tive (até à altura) com a Salvia foram, sem duvida, muito positivas. Trouxeram-me uma visão muito diferente da vida, baseada na experiência e não na "teoria". Objectivamente, as conclusões que tirei foram: a ideia de que existem várias dimensões é verdadeira. a máxima Hérmetica que diz que "O Todo é Mental" é verdadeira. A ideia de que "nós estamos onde está a nossa consciência" é verdadeira. (pelo menos) Muita coisa que já tinha lido sobre Ayahuasca e DMT é verdade. Neste contexto o conceito de "verdade" significa que vai de encontro à minha própria experiência.
- Se as experiências foram positivas, porque ter medo de continuar? Porque, no meu discernimento, ainda subsiste medo, ansiedade, sentido de auto-preservação, etc.
- Asclépio, o deus grego da medicina, assumia a forma de cobra. Na verdade, ainda hoje o simbolo da cobra é usado em todas as farmacias. É em tudo identico ao caduceu de Hermes/Mercurio.
Portanto, e concluindo por agora, este ataque predatório e extremamente intenso da "cobra" é uma cura. A sensação de morte, muito dificil de ultrapassar, é uma morte purificadora. Mas acredita que é muito, muito dificil entregar-me a ela.



Na altura, mal sabia eu que a próxima experiência com Salvia iria ser uma das vivências mais marcantes da minha vida, e uma das mais difíceis de ultrapassar.

Saturday, June 26, 2010

1ª experiência com Salvia Divinorum (interpretação)



Olá,
Este post é o seguimento directo do anterior, onde tentarei partilhar convosco alguns dos meus pensamentos e sensações originados por ter fumado Salvia.

Como disse no post anterior, fiquei completamente chocado quando apercebi-me que o que tinha visto apenas alguns segundos antes - por mais nitido que tenha sido - não era "verdade". A mudança de cenário, que afectou-me a visão, a audição e a percepção do tempo (calor) - foi fulminante.

Seria possível algo tão real não ser... real? Enquanto estive sob o efeito da Salvia aquela visão era tão ou mais real do que qualquer passagem anterior da minha vida: os sentidos estavam todos a funcionar em pleno e por momento algum apercebi-me que era uma visão. Não tinha nada a ver com aqueles sonhos que normalmente temos em que vemos mal, às vezes não ouvimos, mal pensamos, etc. Era tudo... real.
A par disso, tive um insight: "A ilusão da multiplicidade (todos os "eus", pessoas, animais, plantas, tudo...) nos multiplos universos é simplesmente a Grande Alma a ver tudo de todas as perspectivas."

Segue a transcrição do relato de uma conversa que tive com um amigo meu sobre o assunto. As perguntas dele ficarão a bold e as minhas respostas a itálico.



O seu relato é tão fantástico que me surgiu uma torrente de idéias e perguntas, tentarei colocar apenas as mais básicas, deixando as outras p/ o futuro:

1) Posso estar sendo tendencioso, mas seu relato me deixou a impressão de que voce passou por uma experiência semelhante a um sonho, só que muito mais nítido e de mais fácil memorização. Especialmente no segundo caso, pelo que entendi, parece que voce se transportou p/ um cenário completo e bastante concreto, tal qual num sonho, isso é correto ?


Sim, precisamente.


Outra coisa: se for assim, tratar-se-ia de um sonho lúcido, semi-lúcido ou não-lúcido ?

Não sei. Só sei que era muito mais real (nitido ao nível dos sentidos) do que os sonhos normais.


Ou seja: pareceu-me que voce realmente acreditava estar na Universidade, porém o que gostaria de saber é se, naquele momento, voce se lembrava de ter estado há pouco fumando em casa ou essa recordação de estar fumando em casa também havia desaparecido ?

A recordação de ter fumado em casa, na verdade a fumar em casa, desapareceu completamente. Estava naquele local a fumar e não em minha casa.


Qual era o grau de relativização da consciencia de "estar na Universidae" ? Ocorreu-lhe de algum modo uma interrogação como: "Eu estava há pouco em casa, como vim parar aqui ?" Ou simplesmente pareceu-lhe normal estar ali - sem qualquer senso do contexto todo?

Nunca me ocorreu ter estado em casa a fumar. Alias, não notei praticamente transição nenhuma. Agora, passado sensivelmente uma hora e meia, lembro-me do seguinte: fui à cozinha, acendi o cachimbo, dei um "tiro"/"cachimbada" e comecei a ouvir muito barulho. Como normalmente ouço os meus vizinhos, não fiz caso disso mas agora sei que aquele barulho (pessoas a falar) não eram eles. Quando dei por mim estava a fumar na universidade... entre o barulho e "fumar na universidade" não decorreram mais de 10 segundos.


2)Qdo voce me falou da substância, corri p/ ler algo na Internet. Achei uma matéria até bem detalhada, contando os estágios das experiências de quem fuma. Mas nenhuma daquelas descrições coincide com a sua. Qual será a causa, na sua opinião (será a dosagem, por exemplo) ?

Pois, realmente parece que esta experiência não se encaixa em nada que também li. Como não estou habituado a substâncias psicadélicas, e só fumei haxixe praí 5 vezes há cerca de 8 ou 9 anos, comecei pela dose "padrão": folha normal de Salvia + 1/3 (da quantidade de folha) de extracto 5x. Dei um unico "tiro" e fui teleportado para outra realidade sem me aperceber da transição. Foi tão rapido que, mesmo estando a fumar abaixado (ao nível do fogão) nem perdi o equilibrio.



3)acho muito importante voce ficar atento a qualquer insight ou pensamento, sensações, percepções daqui p/ a frente, pois é possível que voce tenha aberto uma porta cujos frutos amadureçam aos poucos.

Sinceramente tive uma avalanche de pensamentos, aliás, intuíções. Tudo o que li até hoje de Filosofia Oriental fez sentido instantaneamente. Vou dizer-te como abri a minha "porta mental". A experiência marcou-me muito. Quando reparei que estava em casa, de noite e sozinho, a minha mente rejeitou. Essa realidade parecia-me mais ténue (desfocada) do que a que tinha vivido por momentos e, como não notei transição entre realidades, "desconfiei" de estar em casa. Passado um minuto recordei-me que realmente tinha vindo para casa, e tinha decidido fumar.
Isso fez-me pensar muito sériamente em quem realmente serei. Mais, como a outra realidade era igual a esta (ao nivel do cenário e das pessoas) mas sem nunca ter acontecido, fez-me também pensar quem serão realmente os outros. Serão fruto do meu pensamento? Se fosse isso, quem seria eu aos "olhos" de outra pessoa qualquer? Não faz sentido. E então, sem fazer qualquer tipo de esforço, veio-me à mente a ideia: A ilusão da multiplicidade (todos os "eus", pessoas, animais, plantas, tudo...) nos multiplos universos é simplesmente a Grande Alma a ver tudo de todas as perspectivas.



É como se houvesse apenas uma Grande Consciência e toda a multiplicidade de formas e seres, por esses universos infinitos, fossem "olhos" desse Uno. É como se a existência fosse um grande mistério que, ao decorrer apenas numa fracção de segundo, demorasse uma Eternidade a ser vista de todas as perspectivas. Cada perspectiva, cada olho, sou eu, tu, qualquer um de nós. A Grande Alma toma consciência de si mesma através da infinidade de consciências (ilusóriamente) individuais.
A partir daqui, tudo o que li até hoje fez sentido. Tudo... tudo.
Depois de uma profundissima meditação senti que tudo, até a mais simples acção, é extremamente importante porque, embora pareça insignificante é algo que precisa acontecer. Tudo tem valor porque tudo precisa de ser experienciado. Tudo.

Friday, June 25, 2010

1ª experiência com Salvia Divinorum



Olá companheiros!
Numa tentativa de reanimar o blog, vou publicar uma série de relatos sobre algumas das minhas mais marcantes experiências com a Salvia.
As experiências com Salvia mudaram radicalmente a minha maneira de ver a vida e permitiram-me - em relação a muitos temas que estudei e meditei - passar de uma assimilação meramente mental para algo superior, ou seja, permitiram-me viver na primeira pessoa muitos dos ensinamentos teóricos que recebi.
A experiência que vou relatar hoje, que foi a primeira, foi extremamente simples mas mudou radicalmente a minha maneira de ser e estar. O local foi a cozinha do meu antigo apartamento e, ao contrário do que é aconselhavel, experimentei sozinho. A minha intenção era ao mesmo tempo objectiva e subjectiva: navegar pelo meu inconsciente. Objectiva por que sabia qual era a minha intenção, mas subjectiva por que não sabia o que iria encontrar...
Preparei uma dose simples de folha de Salvia num cachimbo normal que, no máximo, dá para três "cachimbadas".
Dei a primeira "cachimbada" e passados alguns segundos dei a segunda. Quando estava a preparar-me para dar a terceira, olhei para o lado e pedi aos meus colegas - que estavam comigo num local bastante conhecido por nós - para fazerem menos barulho. O Sol também estava a incomodar-me um pouco tanto pela luminosidade como pelo calor. Dei a terceira cachimbada. Passados alguns segundos olhei para o outro lado e apercebi-me de uma coisa que deixou-me quase em estado de choque: não estava a fumar Salvia durante o dia, nesse tal local, com os meus colegas e um calor abrasador. Estava em casa sozinho e era de noite.

A interpretação imediata dessa experiência, tal como toda a corrente de pensamentos que desencadeou durante todo o fim de semana será revelado noutro post que será publicado amanhã.

Até lá!