Wednesday, September 30, 2009

Por que sonhamos?



Hoje vou deixar-vos com alguns excertos do livro Sonhos Lúcidos de LaBerge sobre os ciclos REM e NREM e algumas pistas sobre a resposta à pergunta "por que sonhamos?".

"Por que todos os mamíferos têm sono REM? É uma pergunta para a biologia evolucionária. Segundo as provas disponíveis, parece que o sono ativo ou REM apareceu há 130 milhões de anos, quando os primeiros mamíferos desistiram de pôr ovos e começaram a parir viviparamente (a cria nasce viva, não é chocada). Parece que o sono inerte, ou sono NREM, surgiu há aproximadamente 50 milhões de anos, quando os mamíferos de sangue quente começaram a evoluir dos seus antepassados reptilianos de sangue frio."
"A evolução do sono (e depois a do sonho) foi disseminada demais e teve um significado comportamental importante demais para ter acontecido por acaso; por isso, supõe-se que tenha ocorrido pelo mecanismo que Darwin tornou famoso, ou seja, pela seleção natural. A idéia é que só as variações genéticas que têm alguma probabilidade predominante de sobreviver são selecionadas pela evolução. Devido à variabilidade genética, na população de todas as espécies, numa época determinada qualquer, aparece uma faixa ampla de características." (...) "Como esse deve ter sido o caso do sono e dos sonhos, podemos supor que eles têm uma ou várias funções adaptáveis (ou seja, úteis)."
"Se você se lembrar que o sono NREM surgiu na mesma época em que os mamíferos evoluíram dos répteis, terá uma pista da função adicional do sono. Os répteis dependiam de fontes externas (essencialmente o sol) para manter uma temperatura corporal suficientemente alta para que pudessem tocar a tarefa de viver (principalmente alimentar-se, fugir e reproduzir)." (...) "Então é para isso (conservar energia) que temos o sono inerte; mas por que o sono ativo evoluiu e, com ele, o sonho? Indubitavelmente deve haver muitos bons motivos para isso, visto que esse estado tem muitas desvantagens. Para começar, enquanto você está sonhando, o cérebro usa muito mais energia do que enquanto está acordado ou no período de sono inerte. E mais: enquanto você está sonhando o corpo fica paralisado, aumentando muitíssimo a sua vulnerabilidade. De fato, para uma dada espécie, a quantidade de sono de sonhos é diretamente proporcional ao grau de segurança da espécie em relação aos predadores; quanto mais perigosa é a vida, menos a espécie pode se dar ao luxo de dormir."
"Dadas essas desvantagens, o sono ativo deve ter oferecido vantagens particularmente úteis aos mamíferos de 130 milhões de anos atrás. Podemos arriscar a mencionar uma vantagem, se lembrarmos que foi nesse ponto da história da evolução que as mães mamíferas deixaram de botar ovos e passaram a parir filhotes vivos. Que vantagens pode o sono activo ter oferecido às nossas ancestrais que eram mães? Creio que poderá encontrar a resposta ao se lembrar que os lagartos e pássaros que nascem de ovos chocados saem da casca suficientemente desenvolvidos para sobreviver por conta própria, se for necessário. A cria vivípara (da qual o bébé humano é o melhor dos exemplos) quando nasce é menos desenvolvida e, em geral, completamente indefesa. Nas primeiras semanas, meses e anos de vida os bébés vivíparos têm de passar por uma grande dose de aprendizado e desenvolvimento, especialmente do cérebro."
"Contrastando com a hora e meia que o adulto passa no sono REM todas as noites, um bébé recém-nascido, que dorme de dezesseis a dezoito horas por dia, tende a gastar cinquenta por cento desse tempo sonhando, ou seja, até nove horas por dia. A quantidades e a proporção do sono REM diminui no decorrer da vida, o que sugeriu a vários pesquisadores dos sonhos que o sono REM pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento do cérebro infantil, proporcionando uma fonte interna de estimulação intensa que facilitaria o amadurecimento do sistema nervoso e ajudaria a preparar a criança pata o mundo ilimitado de estímulos que logo terá de enfrentar."



Fica a questão em aberto para o caso de alguém ter coragem de debater. :)

8 comments:

  1. Sonhamos porque o nosso cérebro está sempre em actividade, ou seja, no nosso inconsciente estão guardadas as lembranças que adquirimos ao longo do dia. Quando dormimos e começamos a sonhar, o nosso sonho entra na fase REM, e isto acontece, porque o cérebro está em alta actividade nessa fase.
    Antigamente acreditava-se que os sonhos aconteciam em fracções de segundos, hoje sabemos que os sonhos têm um tempo real na nossa mente, ou seja, ocorrem na mesma velocidade em que sonhamos.
    Sabe-se também que os sonhos moderam as emoções, quanto maior fôr o tempo de duração do sono na fase REM, maior é o processamento destas memórias. Em contrapartida, mantemos a memória, mas a emoção associada é cada vez menor.
    Quanto ao processo evolutivo do Homem pela proposta de uma teoria, para explicar como ela se dá por meio da selecção natural, a mesma teoria desenvolveu-se para explicação de diversos fenómenos na Biologia.
    Então, poderia-se perguntar: nós aprendemos a sonhar? Uma vez que o sonho é considerado um comportamento, a conclusão plausível é de que sim, aprendemos a sonhar, referindo-se ao seu conteúdo. O comportamento de sonhar é, presumivelmente, um comportamento seleccionado com o processo evolucionário das espécies. Embora, esta afirmação possa parecer difícil de se aceitar, mas pode-se supôr também que, se esse comportamento ainda se mantém, é porque deve ter alguma função para a sobrevivência da nossa espécie.
    O sono REM e sonho não são sinónimos, até o momento, o primeiro é a única evidência que se tem para se dizer que uma pessoa está a sonhar, inclusivé, o sono REM tem como indicação na relação íntima entre os dois (sono e sonho). No sono REM a actividade muscular é praticamente zero, ou seja, evoluiu devido à necessidade de que os homens, enquanto caçadores, ficassem imóveis durante a noite, evitando assim o ataque de predadores.
    Hoje, acredita-se que os sonhos fazem parte do ciclo normal do sono, tendo em vista as inúmeras pesquisas realizadas sobre o período de sono REM.
    A ciência ilumina, mas não clareia tudo.

    Abraços,
    Lumena

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  2. Lumena, o teu comentário é fantástico. Obrigado.
    Apenas uma nota: só os mamiferos têm ciclos REM.

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  3. Obrigada Richard,

    O estudo comparado do sono em diferentes espécies animais permite entender um pouco melhor esses paradoxos. O sono REM aparece nos homeotermos, também conhecidos como animais de sangue quente (aves e mamíferos). Peixes, anfíbios e répteis (animais de sangue frio ou poiquilotermos) não sonham.

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  4. Lumena, e que conclusão tiras daí? :)

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  5. "Apenas uma nota: só os mamiferos têm ciclos REM."

    É assim, a conclusão é esta:
    Répteis (não sonham), aves (sonham um pouco) e mamíferos (todos os mamíferos sonham durante o sono).
    Aves e mamíferos fica inconscientes durante um período.
    Não me fiz entender? :)

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  6. Isso muito dificilmente é uma conclusão.
    2+2+2+2 é a soma de todos os dados. =8 é a conclusão.
    A conclusão é algo que surge quando se consegue articular toda a informação.
    Uma conclusão bastante simples é que, nesses moldes, a arte de sonhar é um efeito da evolução. Mas há mais...

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  7. Sim, a arte de sonhar é todo um processo evolutivo das espécies.
    Agora diz-me: as aves têm ciclos REM?
    Sabemos que os mamíferos têm.
    Centra-te nesse aspecto.

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  8. Como deves calcular, eu próprio não tenho meios de saber se as aves têm ou não ciclos REM. No entanto, de acordo com a informação que já li, só os mamiferos têm ciclos REM. Daí deduz-se que todos os animais que não sejam mamiferos não têm ciclos REM.
    Só para não perder-me nas teias kamamanásicas, diz-me qual é o objectivo de tantas questões circulares.
    O objectivo do meu post era demonstrar que apenas os mamiferos têm ciclos REM e deixei em aberto sobre qual seriam as implicações.
    Já agora, não está provado de forma categórica - e até o próprio LaBerge diz - que apenas sonhamos nos ciclos REM.

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