Monday, August 31, 2009

Sonhos lúcidos em breves relatos



Olá a todos !

Como disse anteriormente, fiquei muito honrado com o convite de nosso amigo Richard Hermeticus para participar deste Blog - um novo Blog, mas que já nasce grande, em vista da qualidade das postagens e da seriedade de seus colaboradores !

Como primeira e tímida contribuição, vou transcrever 4 relatos (sumários), colhidos dentre os últimos sonhos lúcidos que tive.

Ao final, adicionei duas pequenas observações que julguei interessantes para os praticantes, pois tratam não apenas a uma ligeira mudança na estrutura onírica - que considero ainda mais importante que a popular interpretação dos sonhos - como também mencionam uma conexão entre práticas meditativas e os sonhos lúcidos.

Ambos os temas (ou seja, a estrutura e a conexão com a meditação) merecem uma atenta e demorada análise e, por isso, voltarei a eles muitas vezes em outras postagens.


Por volta do dia 17 ou 18/07/2009
(relato escrito bem depois, em 02/08/09)

Estava andando em uma rua e havia uma loja com bolinhas à venda, semelhantes a bolas-de-gude, porém maiores. Fiquei interessado em um a bolinha muito azul (que, posteriormente, me lembraria o TIGLE do Dzogchen) e que pulava muito e até voava. Quando consegui pegá-la, achei-a fascinante. Pouco depois, estava em um carro, no banco de trás, e um amigo dirigia, enquanto um outro passageiro, que não reconheci, encontrava-se ao seu lado. Paramos e saio do automóvel. Foi quando o sonho se torna lúcido. Muito eufórico com a lucidez, alcei vôo. Cantarolava uma valsa de Strauss e ria muito enquanto voava, como uma criança! Outro amigo aparece e começa a voar também. Dançamos juntos em pleno ar, enquanto dávamos muitas risadas com a incrível sensação de liberdade. Acabo acordando.

02/08/2009

Já havia acordado e dormido várias vezes. Como é Domingo, resolvi ficar na cama até conseguir um sonho lúcido.
Na última tentativa, o sonho começou não-lúcido.
Estava em um restaurante “fast-food” e um folheto sobre a mesa me chamou a atenção. Quando comecei a lê-lo, falava de algo espiritual, talvez fosse mesmo um texto kardecista (espírita).
Esse folheto era na verdade o verso de uma proposta ou recibo de uma empresa de mudanças que realmente existe no Brasil chamada “A Luzitânia”. Só que no verso, o título era algo como “GRAEL” ou “GREEL” (ou ainda “GRAAL”), não me lembro bem.
Quem estava sentado comigo achou estranho meu interesse por esse tipo de “literatura”, mas respondi que tudo o que caía em minhas mãos sobre esse assunto poderia ser valioso.
Após lê-lo e tentar explicar ao meu interlocutor seu conteúdo (viagens astrais ou algo assim), vi-me repentinamente transposto para uma sala com a Cláudia (uma colega do meu trabalho) ao lado e um grande espelho que ocupava toda uma parede. Foi como se a explicação que eu dava sobre o folheto produzisse um novo sonho, coisa aliás muito comum nessas situações.
Nesse novo cenário, percebi que estava sonhando (sonho lúcido) e, já consciente de tudo, olhei para o grande espelho que havia, percebendo que só havia um reflexo, o da Cláudia. Expliquei que no Sonho Lúcido, o reflexo da Cláudia era o único, pois evidentemente meu corpo de sonho não apareceria nele (evidentemente, isso nem sempre é assim, mas naquele sonho tudo me parecia bastante lógico).
Então me projetei para dentro do espelho, com a intenção de transformar o sonho lúcido em uma projeção astral (superação do cenário onírico).
O sonho desaparece e um forte barulho de vento - como uma grande ventania ! - toma meus ouvidos. Penso na Ivanise, na tentativa de encontrá-la (ou seja, tentativa de sonho compartilhado), pois não sabia que já era tão tarde (na vigília) e ela certamente já estaria acordada.
Mas só há escuridão e flutuação.
Mesmo assim, insisto e a flutuação e o barulho aumentam, mas sem produzir imagens.
Após bastante tempo, começo a sentir enjôo (provavelmente em razão da sensação de flutuação) e acabo decidindo interromper.

08/08/2009
Por volta das 04:00 hs

Estava semi-acordado, em meditação (meditação de relaxamento profundo - criação do observador profundo).
Começa o sonho.
Aparece um cenário, cenas urbanas. Porém parece que observo essas cenas por uma espécie de buraco, como se estivesse dentro de um túnel.
Estou lúcido e as imagens, desfocadas. Estou bem consciente e acho até curioso que as imagens estejam desfocadas, pois afinal não estou vendo com os olhos reais.
Concentro-me e as imagens tornam-se mais nítidas.
Finalmente “saio do túnel” e me encontro inteiramente inserido no “cenário”.
É uma cidade grande, pela manhã, muitas pessoas e automóveis andando. Não sei porque, mas acho que é nos EUA ou na Inglaterra (mais provável). Flutuo como se eu mesmo fosse um balão, à deriva, por cima de todos.
Involuntariamente, desço e me aproximo muito de um automóvel, quase encostando o nariz na porta, e os olhos na janela e vejo o motorista, que não percebe nada. Tudo é muito nítido, porém não há interação com os “personagens” ou habitantes da cidade, apenas estou ali, como um fantasma, observando enquanto flutuo.
Não tenho controle de meu corpo onírico, há apenas flutuação ao léu.
Começo a flutuar para cima, voando sobre a cidade.
Acordo.

17/08/2009
Por volta das 04:00 hs

Estava em meu quarto da casa em que morava quando era adolescente, porém, no sonho, era meu local de trabalho.
O Cardozo veio me dizer que “estava indo embora”. Interpretei que iria se aposentar. Ele disse que não, mas não deixava claro sua intenção. O diálogo torna-se confuso. Pela confusão, percebi que era um sonho (já havia, dias antes, percebido e tentado me programar para realizar esse tipo de reconhecimento, pois estados de confusão são freqüentes nos sonhos).
Estiquei o dedo na frente dele e o mesmo esticou como um elástico.
O Cardozo não ficou estático - como costumava acontecer com os personagens oníricos quando eu descobria que era um sonho - mas, ao contrário, ficou muito surpreso e impressionado.
Disse a ele que era um sonho e convidei-o a voar.
Atirei-me pela janela, atravessando o vidro, e precipitei-me no céu, que estava muito verde, maravilhoso !
Ele veio atrás de mim, voando também.
Dávamos muitas risadas e ele me perguntou quanto iria durar isso. Respondi que “enquanto durasse o sonho.” - Pensei comigo mesmo que se um de nós dois acordasse, iríamos sumir. Notei que não havia pessoas. Ele mesmo notou também. Então, vimos umas adolescentes e aproximamo-nos delas.
Acordei.



Algumas observações sobre os sonhos acima:

1) diferentemente do que ocorria em meus primeiros sonhos lúcidos, os personagens oníricos não mais sofrem do efeito “quebra de encanto”, no momento em que descubro tratar-se de um sonho. Até então, esses personagens ficavam estáticos como bonecos; às vezes com os olhos vidrados, às vezes borrados. Nos sonhos acima, ao contrário, os personagens continuaram interagindo, como se realmente fossem pessoas que também se surpreenderam com a lucidez onírica. Entretanto, não tive condições de checar se se trataram de sonhos compartilhados.

2)Creio ser muito importante salientar que a maioria dos sonhos lúcidos ocorreram após a prática da meditação de relaxamento profundo, pela qual procuro conservar-me lúcido no estado hipnagógico e, mais importante, por meio do desapego - relaxado e concentrado no "puro observar". Esse tipo de meditação relaxada e concentrada acaba por focar a energia na pura observação, sendo uma espécie de exercício de desapego profundo dos pensamentos, imagens e emoções que sobrevêm, sobretudo naquele estado hipnótico pré-sonho. Frise-se, aliás, que esse tipo de exercício pode ser praticado não apenas no estado hipnagógico, como também na vigília e, em especial, dentro do próprio sonho.

Novo contribuidor



Olá companheiros,
É com enorme felicidade que vos digo que o Pyr Hermetica tem um novo colaborador!
A maior parte de vocês já deve conhecê-lo de outras paragens: é o JHolland dos blogs Sonhos Lúcidos e Metamorficus.

Bem vindo, amigo!

Saturday, August 29, 2009

O método da imagem



Existem mais métodos de auto-sugestão de sonhos, para além do método descrito anteriormente. Hoje vou escrever algumas linhas sobre o denominado "método da imagem".
A principal diferença entre este método e o anterior é que necessitamos de uma fotografia do nosso objecto de sonho. A imagem deverá ficar na nossa mesa de cabeceira. Seguindo o mesmo procedimento do método anterior, devemos escrever no diário "Vou sonhar acerca de..." e ficar algum tempo a olhar para a imagem.
Deverá ser possível lembrarmo-nos da imagem com os olhos fechados. Depois de observar a imagem durante algum tempo, devemos desligar a luz e adormecer, enquanto tentamos lembrarnos mentalmente da imagem. É-nos dito que não devemos deixar discorrer os nossos pensamentos enquanto estivermos mentalmente a visualizar a imagem. O procedimento correcto é visualizar mentalmente a imagem enquanto travamos o caudal habitual de pensamentos. Este procedimento deverá ser executado sempre que acordarmos durante a noite.
Quando sonharmos com o conteudo da imagem, naturalmente fomos bem sucedidos com o exercicio. Devemos sempre lidar com o sucesso, fracasso e registo dos sonhos como descrito anteriormente.
No próximo post vamos por a imagem em movimento, explicando a técnica conhecida como “Visual Induction of Lucid Dreams”. Até lá!

Thursday, August 20, 2009

Auto-sugestão do tema dos sonhos



Depois de nos lembrarmos dos sonhos, com a ajuda do diário de sonhos, e exercendo alguma vontade com o Coueismo, chega a altura de começarmos a fazer exercicios de intensão de sonhos.
Relembro que o objectivo é desenvolvermos estas capacidades, pelo que os os posts de "aprendizagem" serão publicados semanalmente. Enquanto praticamos os métodos aqui descritos, vou publicando outras curiosidades sobre sonhos lúcidos. A Lumena também iniciará um sub tema, dando enfoque à importância da meditação nos sonhos lúcidos.
O primeiro método de auto-sugestão do tema dos sonhos é o mais básico. Enquanto não dominarmos a arte de indução do tema dos sonhos, é-nos dito que devemos escolher temas com os quais não estamos envolvidos emocionalmente. Mais uma vez, o diário dos sonhos é uma preciosa ajuda, uma vez que através da sua consulta podemos saber qual é o padrão dos nossos sonhos.
Na altura em que formos dormir deveremos escrever algo do tipo: "Vou sonhar com..." e dizemos o tema do sonho. Esta frase ficará na mesma página que usaremos para registar o que efectivamente sonhamos nessa noite. De seguida, podemos usar o nosso treino em Coueismo dizendo a nós próprios "consigo direccionar os meus sonhos".
Posteriormente, ao registarmos os sonhos devemos sublinhar a parte do relato que coincida com o tema escolhido por nós. Se ainda tivermos tempo para dormir e não tivermos sonhado com o que nos propusemos, devemos escrever novamente a frase "Vou sonhar com..." sublinhando o "Vou".
Se depois de uma noite de sono não conseguirmos sonhar com o tema escolhido, devemos registar no nosso diário o seguinte texto: "Decidi não sonhar com o tópico escolhido", ficando assim explicito que a responsabilidade e capacidade de indução de sonhos depende inteiramente de nós próprios.
Como eu próprio vou experimentar este método durante uma semana, só daqui a uns dias é que voltarei a publicar algo sobre métodos de sonhos lúcidos. Até lá, e como dito anteriormente, poderão surgir algumas curiosidades sobre sonhos lúcidos ou os posts da Lumena sobre a meditação. Como podem ver, têm mais do que motivos para ficarem por cá!

Até lá, convido-vos a partilharem as vossas experiências.

Wednesday, August 19, 2009

2º passo: a auto-sugestão ou Coueismo



Depois de criarmos um diário de sonhos é natural que nos apercebamos de que uma parte dos nossos sonhos são motivados por acontecimentos do nosso dia-a-dia. Depois de apercebermo-nos disso, é natural concluir que talvez seja possível darmos sugestões ao nosso inconsciente. Essa técnica, ou método, denomina-se de coueismo.
O coueismo é um método de converter desejos em sugestões inconscientes. O seu criador, Emile Coue, definiou os seus principios fundamentais:
1º reescrever o desejo como se estivessemos a descrever uma situação positiva no presente. Exemplo: "Eu quero ter sonhos lúcidos" passa a ser "Eu tenho sonhos lúcidos". É importante nunca formular frases com termos de negação, exemplo: "Eu não vou acordar caso aperceba-me que estou a sonhar".
2º Depois de escolhermos a ideia no 1º passo, devemos repeti-la 20 vezes quando sentirmos que estamos a adormecer. Deverá ser depois repetida no momento em que acabamos de acordar.
Estes dois momentos do dia são importantes visto estarmos numa espécie de estado hipnótico. O momento de adormecer é identico ao do transe hipnótico: as faculdades racionais e criticas da mente estão suspensas, deixando o inconsciente particularmente receptivo a sugestões.
Ao contrário da mente consciente, o inconsciente não trabalha com nenhuma linguagem pelo que não devemos usar termos com vários significados nas nossas auto-sugestões.
Em artigos posteriores, voltaremos a este tema para desenvolvê-lo. Mais uma vez relembro que alguns dos artigos publicados neste blog têm como base a obra Lucid Dreaming de VH Frater Justificatus e têm como objectivo a aplicação prática dos conhecimentos.

Se tiverem experiencias interessantes relacionadas com o tema deste artigo, não hesitem em publicá-las cá na forma de comentários.

Tuesday, August 18, 2009

1º Passo: Criação de diário de sonhos



Em bastante bibliografia é dito que o primeiro passo para obter sonhos lúcidos é a recordação dos próprios sonhos. Para isso, deverá ser criado um diário de sonhos. Poderá ser um caderno normal e uma caneta, e deverá estar ao alcance dos braços a partir da posição normal de sono.
Antes de entrar no estado de sono, sugerimos a nós próprios que quando acordarmos, a primeira coisa que iremos fazer é escrever os nossos sonhos. Ao principio é bastante complicado de escrevermos seja lá o que for quando acordamos, mas com o hábito torna-se mais fácil. Passado pouco tempo, entusiasmados com o facto de lembrar-mo-nos cada vez de mais sonhos e de forma mais detalhada, talvez não seja improvavel se começarmos a programar o despertador duas horas mais cedo só para registar sonhos ainda em maior quantidade. Esse hábito comigo resulta particularmente bem porque faz-me lembrar dos sonhos que tive até ao despertador tocar e, quando acordo à hora normal, ainda consigo registar mais sonhos. Rapidamente a motivação de aumentar as nossas memórias oniricas supera a preguiça de dormirmos seguido. Dizem-nos que está é precisamente a disciplina que necessitamos para nos tornarmos sonhadores lúcidos.
Mesmo que nos lembremos de pouquissimos detalhes ao acordar, deveremos sempre escrevê-los. Tornar-se-á mais do que normal que, há medida que formos escrevendo, todo o sonho desenrolar-se-á novamente à nossa frente. Se não formos capazes de nos lembrarmos de nada, deveremos escrever no papel "Hoje escolhi não recordar-me dos meus sonhos". Esta frase ajudará a afirmar que a responsabilidade de não nos termos lembrado dos sonhos é inteiramente nossa, o que é absolutamente verdade.
Mentalmente falando, penso que é importante que os sonhos de cada noite deverão ser registados em folhas diferentes. Aqui o importante não é tentar interpretar os sonhos, mas sim apenas registá-los por forma a aumentarmos a nossa capacidade de memória dos sonhos. Será mais do que natural que, com o passar dos dias, as memórias dos sonhos serão iguais às obtidas na "vida acordada", o que fará com que a nossa consciencia vá dando mais realidade ao mundo onirico. Dito de outra forma, o nosso "eu" consciente começa a fundir-se com o inconsciente.
Por ultimo, podemos ler os sonhos do dia anterior - em qualquer altura do dia - e veremos como continuam vividos na nossa mente. Pessoalmente acho que o registo dos sonhos também ajuda-nos bastante a perceber com o que sonhamos e, em ultima instancia, a perceber o que está no nosso inconsciente (pelo menos no inconsciente mais imediato).
O diário de sonhos terá utilidades acrescidas, como veremos em posts futuros.

Saturday, August 15, 2009

Os três degraus até à lucidez



Como todos os leitores atentos deste blog sabem, existe um fio condutor nos artigos, bem para lá do tema dos posts. Sendo assim, hoje vou fazer o post seguinte ao artigo em que falei sobre algumas questões introdutórias do tema em questão.

Embora alguns de nós tenhamos mais facilidade do que outros para sonhar lucidamente, sem grandes treinos, a verdade é que todos nós podemos ter sonhos lúcidos. Os sonhos lúcidos são atingíveis mediante uma forte motivação e um conjunto bem definido de técnicas. Podemos dizer que os métodos para atingir a lucidez nos sonhos seguem um modelo conceptual dividido em três partes:

A recordação dos sonhos é um método para aumentar a presença e a memória nos sonhos. As pessoas que não se recordam dos seus sonhos ou até aquelas que acordam apenas para se esquecerem que estiveram a dormir, não darão bons sonhadores lucidos. É, portanto, necessário disciplinar a nossa mente para ficar mais desperta nos nossos sonhos. Com persistência, a memória dos sonhos aumenta drásticamente logo após algumas noites de treino.

A segunda parte do modelo conceptual é a auto-sugestão dos sonhos que consiste em decidirmos qual será o tema dos sonhos. A auto-sugestão é fundamental para aqueles que queiram fazer trabalhos especificos nos sonhos, como sendo a cura interior. Poderá também ser usado, como veremos num post mais à frente, como técnica de despertar no sonho.

A ultima parte, e objectivo ultimo, é a própria lucidez. É dificil manter o estado de lucidez ou evitar acordar. Para isso, deveremos ter em conta uma série de técnicas que nos permitirão manter o estado de lucidez.

Os posts seguintes, dentro deste tema em concreto, abordarão em pormenor estas várias etapas, expondo técnicas e alguns relatos. Lembrem-se sempre que não existem impossíveis. Existem sim impossibilitados.

Entrevista a Graham Hancock sobre Ayahuasca e estados alterados de consciencia



Mais uma vez, pela mão do meu estimado amigo Cirilo, deixo-vos uma excelente entrevista que fizeram ao investigador Graham Hancock sobre Ayahuasca e estados alterados de consciencia.
Os temas principais da entrevista são:
* A Ayahuasca e os estados alterados de consciencia como factor decisivo da evolução da Humanidade;
* A ligação entre a arte do período do Paleolitico e o Xamanismo;
* Experiencias científicas de consumo de DMT;
* A ligação entre os mundos interdimensionais e os relatos de raptos de ETs;
* "Junk DNA";

Estes temas são abordados no seu livro Supernatural.

Sintam-se à vontade para partilhar as vossas experiências e pensamentos resultantes da entrevista.

Friday, August 14, 2009

O Sonho que Cura



Ao ler-mos sobre sonhos lúcidos e estados alterados de consciencia, é inevitável passar ao lado do aspecto curativo que estas experiências podem ter. Sendo assim, achei por bem disponibilizar mais um excerto da excelente obra de LaBerge "Sonhos Lúcidos".


Testemunhando o poder emocional de cura dos sonhos, Goethe escreveu: "Houve vezes em que adormeci em lágrimas; mas nos meus sonhos formas das mais encantadoras vieram me animar, e acordei revigorado e animado".
No mundo antigo o uso dos sonhos na cura era muito disseminado. Os doentes dormiam nos templos de cura, em busca de sonhos que curassem ou ao menos diagnosticassem a doença e sugerissem, um remédio. Menciono isso para lembrar que curar por meio de sonhos lúcidos é uma idéia parcialmente nova e parcialmente antiga. Mas antes de continuar precisamos primeiro esclarecer exatamente o significado das palavras "saúde" e "cura".
Segundo a concepção popular, uma função importante desempenhada pelo sono e pelos sonhos é proporcionar a recuperação. Acontece que há provas científicas que sustentam a concepção de sono de Macbeth, ou seja, "o sono é o principal fornecedor de alimento no banquete da vida". Por exemplo, entre muitas espécies existe uma correlação entre a quantidade de sono e a necessidade de recuperação, como se vê medindo a taxa metabólica. Da mesma forma, no caso dos seres humanos o exercício físico leva a ter mais sono, especialmente sono delta, que, por sua vez, libera mais hormônio do crescimento. Por outro lado, parece que o exercício mental ou o esforço emocional dão como resultado um aumento do sono REM e, conseqiientemente, um aumento de sonhos. Por ser uma ocasião de isolamento relativo dos desafios ambientais, o sono permite que a pessoa recupere a saúde ótima ou a capacidade de reagir adaptavelmente. Os processos de cura pelo sono são holísticos, ocorrem em todos os níveis do sistema humano. É provável que nos níveis psicológicos mais altos essas funções curativas normalmente sejam desempenhadas durante os sonhos do sono REM. Digo "normalmente" porque, devido a atitudes e hábitos mentais mal adaptáveis, nem sempre os sonhos desempenham as suas funções, como se pode ver no caso dos pesadelos (...)

(Continua...)

Wednesday, August 12, 2009

O fascinante mundo dos sonhos (2ª parte)



Deixo-vos agora com a segunda parte do artigo publicado ontem.


"O acto de voar nos sonhos, traduz um desejo de liberdade. Este pode ser expresso em aviões, aves e tudo o que possa voar.
Sonhar com números, implica bastantes significados, já que, cada número transmite uma significação que deverá ser adequada ao contexto do sonho. Números grandes, podem traduzir dinheiro ou abundância. Contrariamente ao que possa parecer, a morte, pode significar o fim de um ciclo e até a necessidade de iniciar algo novo. Efectivamente, traduz uma ruptura com algo: um sentimento, uma pessoa, uma situação de conflito, entre outras.
Sonhar com jardins, geralmente é um bom prenúncio, sobretudo, porque é um local de paz e de beleza. A quantidade de flores e de árvores, poderá remeter-nos para o apuramento de significados mais detalhados. Estar num cruzamento, ou próximo dele, representa a liberdade de escolha, a procura de uma alternativa, a consciência de que existem alternativas ou a dificuldade em escolher na diversidade. Se conseguir ver os sinais de trânsito, certamente que poderá
acrescentar as pistas para desvendar o significado do sonho.
No caso de sonhar com o mar, este poderá simbolizar a imensidão, as oportunidades, mas também a solidão. Analise o ambiente envolvente e verifique se é positivo ou negativo.
Sonhar com crianças, pode não ser sinónimo do grito biológico, mas sim de algo que nos traz saudades da infância, de algo que queremos recomeçar, ou de uma fase muito feliz que estamos a viver.
A montanha, é o célebre sonho pelo qual todos passamos, mesmo que não nos recordemos. A queda significa o medo; de crescer, do desconhecido, da grandiosidade ou a consciência de que somos pequenos no mundo. A escalada, representa as dificuldades que sentimos. Se chegar ao topo, está em condições de avançar numa etapa da sua vida, se ainda lá não conseguiu chegar, precisa de mais algum tempo e esforço para ter mais força e capacidades. Se está a descer, é porque precisa de mais desafios para planear e orientar a sua vida.
Se por um lado, é interessante e enriquecedor compreender o que o nosso cérebro nos transmite durante o sono, por outro, é preciso evitar os exageros, pois a constante tentativa de explicação dos sonhos, poderá colocar-nos, não só em exaltação, como em situações de insónia pela ansiedade causada. Se houver um sonho que o perturbe e do qual se recorde, tente saber o que poderá significar. Esta atitude é importante para descansar e para encontrar uma explicação palpável para algo que o possa intrigar. Ao mesmo tempo, a sua capacidade intuitiva e a análise do quotidiano, igualmente serão um bom suporte para entender e interpretar os sonhos. Se está a passar por uma fase negativa, será mais possível que os sonhos sejam negativos e sombrios.
Quando a fase é positiva, naturalmente os sonhos terão conteúdos favoráveis. Muitas vezes, estas imagens reflectem carências, problemas, desejos e aspirações, tal como podem desvendar medos e
frustrações. De uma forma moderada, tente interpretar algo que não é novo, mas que pode ajudar para que se sinta mais tranquilo.
Não se esqueça de que, existem muitas mais interpretações e atribuições de significados ao que sonhamos e que esta é uma ferramenta da psicanálise, pois Freud descreveu que, o estudo dos sonhos é um elemento muto importante para se compreender eventuais problemas psíquicos nos indivíduos. Através da terapia do sono, em que o paciente é acordado estrategicamente, é possível compreender o que o inquieta e ajudá-lo a superar medos e traumas do passado."

Tuesday, August 11, 2009

O fascinante mundo dos sonhos



Olá amigos, hoje deixo-vos a reprodução de um artigo enviado por um grande amigo meu. Embora não seja da autoria dele, gosto sempre de assinalar quem faz chegar a informação até mim. Abraço Cirilo!


"Os sonhos parecem constituir um desafio e um mistério, já que muito se escreve sobre o assunto, mas pouco se tem conseguido provar em termos científicos. Ainda assim, todos nos fascinamos por este assunto e queremos aprender mais. Por isso, aceite este desafio!
Antes de arriscar o significado, importa perceber que existem vários tipos de sonhos. Com essa categorização, certamente que será mais fácil compreender o que reveste o mundo que se processa enquanto dormimos.
Os sonhos criativos, representam as imagens através da pintura ou da escrita que o sujeito desenvolve enquanto dorme. No caso dos sonhos lúcidos, estes surgem como uma expressão da realidade, ao ponto da pessoa conseguir controlar os factos, como se estivesse a participar num filme. Este tipo de sonho permite que a pessoa se encontre nele e que reconheça outras pessoas.
Neste tipo de sonho, pode acontecer a coincidência de uma pessoa interveniente no nosso sonho, igualmente ter passado pela mesma experiência a dormir, ou de nos surgir nos dias seguintes.
No que se refere a pesadelos, estes são preenchidos com figuras lendárias, monstros, fantasmas e facilmente nos remetem para a impressão de que o medo pode estar instalado na nossa personalidade.
O facto da pessoa sofrer algum tipo de desconforto no pesadelo pode ser interpretado como alguma reacção menos positiva, como uma personificação de algo que nos assusta etc.. Em jeito de exemplo, se estiver preso no pesadelo, é porque há algo na sua vida real que o asfixia, se o monstro o ataca, é porque há situações de medo no quotidiano, mas quando algo o apresenta como vitorioso, é um símbolo de que está com capacidade para lidar com essas situações negativas e de lutar contra os obstáculos.
Os sonhos previsíveis, representam que a pessoa acredita que o que se passou nos sonhos se irá realizar na sua vida e podem estar associados à previsão do futuro. Não sendo possível provar este facto, existem coincidências, muitas vezes, um reflexo da consciência de que há um perigo e, no sonho este revela-se. Por vezes, acontece na vida real, ainda que apresentado noutras formas.
Os sonhos repetitivos, habitualmente revelam que algo o preocupa e que não o tem conseguido superar. Quando fazemos algo por resolver essa situação, este tipo de sonho tende a desaparecer.
Quanto aos sonhos sensuais, apesar de serem mais frequentes na fase da puberdade, perseguem-nos ao longo da vida e, geralmente revelam-nos desejos sexuais ainda não concretizados, ou uma experiência muito positiva que se quer repetir. Muitas vezes, o desejo está recalcado pela cultura, pela punição, ou outros aspectos e, o acto de sonhar, como não tem barreiras ou censura psíquica, abre portas a essa informação.
Em resumo, percorra a atribuição de significados dos sonhos:as árvores podem representar a vida, a constituição de família e a crença nas oportunidades."


(Continua amanhã)

Saturday, August 8, 2009

Quem sou? (2ª parte)




Segue a segunda parte do artigo sobre como o estudo dos sonhos lúcidos pode ajudar a perceber quem realmente somos. Mais uma vez relembro que o artigo é uma transcrição de uma parte da obra Sonhos Lúcidos de LaBerge.


O facto de haver alguns sonhos em que aparentemente não representamos nenhum papel demonstra que o actor de sonho não é quem está sonhando. Nesses sonhos parece que testemunhamos os fatos do sonho do lado de fora, em graus variáveis. Às vezes sonhamos, por exemplo, que estamos assistindo a uma peça. Enquanto a ação se desenrola no palco parece que nós estamos pelo menos representados como presentes, embora observando passivamente. Um exemplo famoso desse tipo de sonho está no Antigo Testamento (Génese 41:1-7):

"O faraó sonhou: e eis que estava ao lado do rio. E eis que surgiram do rio sete vacas de boa aparência e bem fornidas; e ficaram pastando na pradaria. E eis que depois delas surgiram do rio mais sete vacas, de má aparência e desprovidas de carnes; e ficaram ao lado das outras vacas, na margem do rio. E as vacas de má aparência e desprovidas de carnes devoraram as sete vacas de boa aparência e bem fornidas. Com isso o faraó acordou."

Em outros casos o sonhador pode não estar presente no sonho, como aconteceu no sonho que o faraó teve quando voltou a dormir:

"E dormiu e sonhou pela segunda vez: e eis que sete espigas de milho surgiram de uma planta,
viçosas e boas. E eis que depois delas brotaram sete espigas finas e maltratadas pelo vento do oriente. E as sete espigas finas devoraram as sete espigas viçosas e boas. E o faraó acordou e eis que fora um sonho.
"

Dou a essa perspectiva descorporifiçada o nome de "observador do sonho". O observador do sonho não está contido no sonho e fica do lado de fora do mesmo.
Todo sonho contém pelo menos um ponto de vista com que podemos nos identificar: o papel que estamos representando no nosso teatro de sonho. A natureza do papel que desempenhamos ou optamos por desempenhar no sonho nos deixa vários graus de participação, que vão da participação completa do ator de sonho ao desligamento do observador do sonho, que não participa de nada. Por isso, a resposta da pergunta "quem é o sonhador lúcido?" parece ser: "essa pessoa é uma figura composta; em parte é o ego ou ator de sonho, em parte é o observador do sonho".

Friday, August 7, 2009

Quem sou?




Hoje gostaría de partilhar convosco alguma informação que li no "Sonhos Lúcidos de LaBerge sobre o que me parece ser a derradeira questão e objectivo dos sonhos lúcidos: a busca de quem realmente somos.
Como por certo já leram, existe toda uma corrente de Dream Yoga no Tibete que visa o aumento de consciência durante o sonho, por forma a que o discípulo reconheça a ilusão dos sonhos. É-nos dito que essa tomada de consciência e o eliminar dos véus de Maya ajudam imenso a fazer o mesmo neste plano de manifestação mais denso. Sendo assim, seguem dois excertos do livro.


(1º Excerto)

Sempre são os yogues e outros especialistas em "estados interiores" que afirmam serem capazes de conservar a percepção consciente a noite inteira, até mesmo durante o sono sem sonhos.
Sri Aurobindo Ghose, mestre indiano do século XX, escreveu: "até é possível ficar completamente consciente no sono e acompanhar os estágios dos nossos sonhos, do começo ao fim ou durante trechos grandes; verifica-se que nesses momentos temos consciência de que estamos passando de um estágio para o seguinte até atingir um período breve de repouso sem sonhos, luminoso e cheio de paz, que é o verdadeiro restaurador das energias da nossa natureza acordada, e depois voltar pelo mesmo caminho para a consciência acordada. Quando passamos assim de um estado para outro, é normal deixar que as sensações anteriores se afastem de nós; por sua vez, só são lembradas as sensações mais vívidas ou mais próximas da superfície acordada, mas isso pode ser remediado: é possível conseguir reter mais ou desenvolver o poder de voltar na lembrança, de sonho para sonho, de estado para estado, até que o todo esteja mais uma vez diante de nós. Embora seja difícil atingir ou manter estabelecido, um conhecimento coerente da vida do sono é possível".


(2º Excerto)

Normalmente apresenta-se num sonho um personagem que o sonhador considera que é ele mesmo. É com os olhos de sonho desse corpo de sonho que normalmente testemunhamos os factos do sonho. Comumente o corpo de sonho é quem achamos que somos enquanto estamos sonhando e parece que este é o suspeito óbvio. Só que na verdade apenas sonhamos ser aquela pessoa: esse personagem de sonho é apenas uma representação de nós mesmos. Dou a esse personagem o nome de "ator de sonho" ou "ego de sonho". O ponto de vista do ego de sonho é o de um participante, voluntário ou não, aparentemente contido num mundo multidimensional (o sonho), coisa bem análoga ao que você provavelmente está sentindo agora na sua existência.


Continua amanhã

Thursday, August 6, 2009

Falso despertar




Olá. Por certo que todos nós já devemos ter lido muitos relatos sobre sonhos lúcidos, mas este é excepcional. Retirei-o da obra citada no artigo anterior.

Certa noite fui acordado por uma batida urgente na , porta do meu quarto. Ergui-me e perguntei:
- "Quem está aí?"
A resposta veio na voz de Marty (o encarregado do laboratório):
- "Monsieur, é madame H" (alguém que estava morando na cidade na época e fazia parte do meu círculo de amizades) "que está pedindo que vá imediatamente à sua casa para ver mademoiselle P, que ficou doente de repente."(Mademoiselle P fazia mesmo parte da casa de madatne H e também era conhecida minha.)
- "Só me dê tempo para me vestir", disse eu, "já vou correndo".
Vesti-me apressadamente, mas antes de sair fui ao toucador e passei uma esponja húmida no rosto. A sensação da água fria me despertou e percebi que havia sonhado com tudo o que acontecera antes e ninguém havia vindo me chamar. Com isso, voltei a dormir. Mas pouco tempo depois ouvi de novo a mesma batida à minha porta.
- "Como, monsieur, então o senhor não vem?"
- "Meus Deus! Então é mesmo verdade? Pensei estar sonhando!'
- "De modo algum. Apresse-se. Estão esperando pelo senhor."
- "Está bem, vou correndo."

Tornei a me vestir e mais uma vez fui ao toucador e passei a esponja de água fria no rosto e, de novo, a sensação da água fria me acordou e me fez compreender que havia sido decepcionado por uma repetição do mesmo sonho. Voltei para a cama e pus-me a dormir de novo. A mesma cena se desenrolou, quase identicamente, mais duas vezes.
Quando na manhã seguinte Delage acordou "de verdade", viu que "toda a série de actos, raciocínios e pensamentos não tinha passado de um sonho, mas um sonho que se repetiu quatro vezes em seguida, sem nenhuma interrupção do sono e sem que tivesse me mexido na cama".

Wednesday, August 5, 2009

Primeira descrição europeia de sonhos lúcidos



Hoje deixo-vos com uma citação da obra Sonhos lúcidos de Stephen LaBerge, sobre o que terá sido a primeira descrição de um sonho lúcido no Ocidente.


A primeira descrição de um sonho lúcido na história do Ocidente está conservada numa carta escrita em 415 d.C. por Santo Agostinho. Discutindo a possibilidade de sentir coisas depois da morte, quando os sentidos físicos já não funcionam, Agostinho citou o sonho de Genádio, médico em Cartago. Genádio, que padecia de dúvidas a respeito da existência de uma vida após a vida, sonhou que um jovem de "aparência notável e presença marcante aproximou-se e ordenou: 'Siga-me' ". Seguindo obedientemente o jovem angelical, Genádio chegou a uma cidade onde ouviu um canto "tão delicadamente doce que sobrepujava tudo o que já ouvira". Indagando a respeito da música, disseram-lhe que era "o hino dos abençoados e do santos".
Nesse momento Genádio acordou, considerando tudo "apenas um sonho". Na noite seguinte sonhou de novo com o jovem, que lhe perguntou se conseguia reconhecê-lo. Quando respondeu: "Mas é claro que sim!", o jovem perguntou onde o havia conhecido. A memória de Genádio "não conseguiu" lhe dar a resposta adequada e ele narrou os acontecimentos do sonho anterior. Nesse ponto o jovem indagou se aqueles fatos haviam acontecido durante o sono ou quando estava acordado. À resposta de Genádio, "durante o sono", o jovem continuou o que havia se tornado um interrogatório socrático, declarando: "Você se lembra bem de tudo; é verdade que viu essas coisas enquanto estava dormindo, mas preciso lhe dizer que mesmo agora você está vendo no sono".
Dessa forma Genádio ficou consciente de estar sonhando. O sonho, agora lúcido, continuou, com o jovem perguntando: "Onde está o seu corpo agora?" Tendo Genádio dado a resposta adequada, "na minha cama", o inquisidor do sonho continuou a discussão: "Sabe que agora os olhos desse seu corpo estão confinados e fechados, e sabe que com esses olhos não está vendo nada?" Genádio respondeu: "Sei". Nisso, o professor do sonho chegou à conclusão do raciocínio, perguntando: "Então que são os olhos com que está me vendo?" Incapaz de resolver aquele quebra-cabeça, Genádio permaneceu em silêncio e o catequista do sonho passou a "revelar para ele o que estava se esforçando por lhe ensinar com aquelas perguntas", exclamando triunfalmente: "Pois quando está dormindo e deitado na cama esses olhos do seu corpo não têm serventia e não estão fazendo nada; no entanto, você tem olhos com os quais está me olhando, e sente prazer nessa visão; de modo que, depois da sua morte, quando os olhos do seu corpo estiverem completamente inativos, haverá em você uma vida que ainda estará vivendo, e haverá uma faculdade de percepção com a qual você ainda estará percebendo. Por isso, depois disto tenha cuidado com as dúvidas que abriga sobre a vida do homem continuar ou não depois da morte".
Santo Agostinho nos conta que depois daquilo as dúvidas do sonhador foram completamente dissipadas. Temos de admitir que a força do raciocínio (não a do sonho lúcido) fica diminuída pelo
fato de que o próprio jovem, apesar de confiante, não foi mais capaz que Genádio de explicar a natureza dos olhos com os quais enxergamos nos sonhos. Apesar da clareza dos raciocínios aristotélicos ao contrário, para Genádio e para a maioria de seus contemporâneos ainda era preciso ver para crer. Sonhar com ver alguma coisa implicava que essa coisa não era uma mera imagem e sim um objeto que existia em algum lugar (fora dequem estava sonhando.
Igualmente, para a mente pré-científica, ver alguma coisa num sonho implicava a existência verdadeira de olhos de sonho com os quais se exergava nos sonhos e, — pelo mesmo raciocínio, implicava um corpo de sonho com o qual se existia nos sonhos, presumivelmente análogos aos órgãos físicos correspondentes de sentido e percepção, e ao corpo físico. Ao mesmo tempo, tendo em vista que esse segundo corpo ou corpo de sonhos parecia passar muito bem enquanto o corpo físico estava ocupado dormindo, era fácil concluir que os dois corpos eram na verdade independentes um do outro.