Wednesday, December 9, 2009
Inner World: o mundo dos palhaços
Olá a todos,
Como temos vindo a explorar na secção subordinada ao temaDMT, existe todo um mundo interior à espera de ser explorado. Embora os proximos posts sejam acerca de experiências pessoais, o verdadeiro "cair do véu" dá-se quando as questões do ego são postas de lado. Para isso, há que recorrer a todo um processo de cura interior através da presençã, da meditação, do trabalho no mundo onirico ou sob o efeito de substancias psicadélicas.
Há já alguns meses que tenho dedicado-me inteiramente a explorar estes mundos mentais da melhor forma que consigo: lendo, meditando e experimentando. Isso levou-me a uma profunda instrospecção que foi a principal causa para ter deixado o blog a "meio gás". Mas, chegou a altura de partilhar convosco alguns relatos e, futuramente, meditações sobre o tema.
Apenas recapitulando o que foi dito anteriormente, as visões em estados alterados de consciencia começam com a visualização de padrões geométricos e cores "psicadélicas". É interessante o facto dos relatos apontaram para algo muito identico à cultura Maia, Islamica e Asteca, portanto, talvez as representações usadas nestas culturas sejam mais literais do que normalmente pensaríamos.
As visualizações de condutas, túneis, estadas e espirais também são comuns. Algumas das visualizações que mais me intrigaram foram as das espirais de ADN. Passei semanas a investigar sobre este tópico em particular e penso ter chegado a algumas conclusões. Passados esses véus, os relatos apontam para o contacto com seres incorpóreos, invísiveis ou espirituais. Alguns deles são amigaveis, outros nem por isso. E é precisamente aqui que vão começar as transcrições de alguns relatos que li.
"Algo parece ter-me agarrado pela mão e ter dito:"Vamos!". De seguida, comecei a voar pelo que parecia ser um ambiente de circo. Nunca tinha estado fora do meu corpo anteriormente. Senti-me percorrer um labirinto a uma velocidade enorme. Depois, deparei-me num espetaculo de circo bastante extravagante.
Era tudo muito engraçado. Pareciam ser todos Jokers e estavam a actuar para mim. Eram engraçados: tinham sinos nos chapeus e grandes narizes. Contudo, tive a sensação que poderiam virar-se contra mim, algo não tão amigável."
De acordo com os relatos expostos no livro "DMT - The Spirit Molecule", o tema do circo é bastante recorrente. Várias pessoas, com culturas diferentes, relataram basicamente a mesma coisa. Isto leva-nos a pensar se realmente se trataria de uma experiência pessoal.
Monday, December 7, 2009
A terra das duas Luas
Olá a todos,
Mais uma vez vou deixar-vos com um relato de um sonho lúcido, bastante diferente do anterior.
Ontem à noite tive uma conversa com o meu irmão sobre estados alterados de consciência, hipnoze, sonhos lúcidos, etc, o que prédispos-me para as aventuras oniricas. Ao contrário do que é comum, detive-me mais de uma hora no estado hipnogágico mas sobre isso talvez escreva outro post, já que encontrei muitas semelhanças com alguns estados intermédios de outras aventuras.
O sonho lúcido ocorreu na noite de ontem para hoje, por volta das 9:30 da manhã, estando a dormir há cerca de 7 horas. Começou como um sonho normal. Ia a casa de um colega chamá-lo quando reparei que estava num momento do dia particularmente belo: o Sol estava a por-se e a Lua Cheia a aparecer. Detive-me a ver este momento. Apesar de ainda ter de estar dia, a verdade é que já era noite profunda, mas esse pormenor não me chamou a atenção. Quando o Sol pôs-se, surgiram multiplos arco-iris, que cobriram todo o céu. Como nunca tinha visto mais do que um duplo arco-iris, pensei tratar-se de uma ilusão óptica e, ao fechar e abrir novamente os olhos, o cenário mudou drasticamente: os arco-iris desapareceram e o céu voltou a ficar azul, com "carreiras" de nuvens nos locais onde existiam os arco-iris. Esta mudança drastica do cenário também não foi o suficiente para "despertar".
Nisto começo novamente a dirigir-me para a casa do meu colega, quando todo o cenário voltou a escurecer e apareceu uma segunda Lua. Olhei para trás e confirmei que o Sol já tinha desaparecido, estando as duas Luas uma ao lado da outra. Achei estranho e quando observei melhor a segunda Lua, vi que tinha uma cara desenhada! Pensei: "Isto tem de ser um sonho!" (nota: não tinha a certeza. deduzi que fosse um sonho). Sendo assim, dei um salto. O salto levou-me bem mais alto do que o normal e logo aproveitei (fazendo esforço mental) para voar. Quando comecei a voar dei por mim a gritar de entusiasmo e decidi explorar de perto daquela segunda Lua.
Ao entrar no Hiper-Espaço senti como se tivesse rompido uma membrana. Instalou-se um silêncio total e fiquei com falta de ar. Depois pensei que se estava a sonhar, não precisava de respirar. Observei a Lua com maior detalhe, já no Hiper-Espaço. Embora já não sentisse necessidade de respirar, sabia que não estava a fazê-lo.
Por fim, seguiu-se o habitual desejo de ir para o Egipto. Lembro-me perfeitamente de pensar: "se isto é um sonho, consigo ir para o Egipto". Neste instante comecei a sobrevoar as piramides mas rapidamente voltei ao sono normal. Embora me recorde perfeitamente do sonho que tive a seguir, já não foi lúcido.
A discussão pode ser seguida aqui.
Saturday, December 5, 2009
Os vários tipos de experiências
Olá a todos.
O tema do artigo de hoje servirá de base para os que se seguem, tentando estruturar o tipo de experiências em estados alterados de consciência em três: experiências pessoais, transpessoais e misticas. Uma definição rápida de estado alterado de consciência poderá ser a a sabedoria adquirida através de um estado directo-intuitivo-não local ao contrário do comum percepção-cognitivo-local.
A primeira das três categorias, denominada de pessoal, são experiências em que as pessoas lidam antes de mais com as suas próprias vidas, histórias, circunstâncias e sentimentos, quer sejam eles conscientes ou inconscientes. Normalmente este tipo de sessões resultam num maior estado de presença e na aceitação de problemas pessoais considerados dificeis de resolver.
Por sua vez, as experiências transpessoais são sessões para lá dos limites da experiencia de vida a pessoa, mas ainda continuam a manifestar-se dentro de uma "esfera" particular. Embora sejam experiências mais intensas, continuam de certa forma a fazer parte de algum tipo de experiências do individuo. As experiências misticas ou de quase-morte são normalmente enquadradas dentro desta categoria.
Por fim, os mundos invisiveis manifestam-se nas experiências misticas. Estes encontros com realidades que aparentam ser independentes e autónomas e que coexistem com a nossa realidade. Por vezes, estes reinos aparentam ser habituados por seres alianisnas, que estão mais ou menos conhecedores dos viajantes (nós) e que comummente interagem connosco.
Normalmente as sessões são uma mistura de mais do que uma categoria de experiências. Uma experiência mistica ou uma experiência-quase-morte pode ser precedida por encontros com outros seres. Uma experiência emocionalmente profunda, psicológicamente curativa, pode levar a uma experiência mistica ou a insights espirituais.
Sunday, November 29, 2009
Philosophia Perennis
A visão tida por grande parte dos teologos, antigos místicos e filosofos espirituais de várias épocas é chamada de Filosofia Perene. É perene porque contém pensamentos profundos e atemporais sobre a vida e a natureza, culturas, e fora ensinada pelos maiores pensadores de todos os tempos. Quatro máximas cruciais acerca da realidade e da natureza humana estão no centro da sabedoria perene:
1- Existem dois reinos da realidade. O mundo físico ou fenoménico não é a unica realidade; outro reino, imaterial, existe, e os dois constituem a realidade ultima.
2- Todos os seres humanos existem nestes dois reinos e reflectem dos dois lados da realidade.
3- Os seres humanos possuem a capacidade, embora não usada e por conseguinte atrofiada, de percepcionar a realidade imaterial.
4- Os seres humanos conseguem reconhecer a sua centelha divina (Atman) e o sólo sagradado (Brahman) que é a Fonte. Esta percepção é o ultimo objectivo (iluminação mística), e a sua busca é o bem maior (vida sagrada) da existência humana. Todos os grandes mensageiros espirituais e os mestres do misticismo declararam a uma só voz que o propósito da Humanidade é a reunião com o seu princípo divino.
Os ensinamentos da Filosofia Perene sugerem que o cosmos não só está interconectado e pulsando de vida, como é multidimensional. O universo físico não é o unico domínio; para lá da sua complexa hierarquia, está o reino sublime do espírito, que para a nossa cultura contemporanea fora apelidado de consciência. O reino espiritual não pode ser conhecido através dos sentidos físicos e não pode ser medido por instrumentos científicos. De acordo com os seguidores desta filosofia, podemos aproximar-nos do reino espiritual através da meditação, dos rituais, e através de uma vida sagrada. Mais ainda, a Filosofia Perene afirma que a nossa verdadeira natureza é espiritual. Somos fundamentalmente criaturas (e criadores) desse reino.
Os artigos que se seguem são enxertos da consciência desse reino imaterial. São relatos que farão abanar os alicerces das estruturas mentais de todos aqueles que tentam buscar resposta para as perguntas mais profundas da vida: de onde venho, quem sou, para onde vou...
Wednesday, November 18, 2009
Tributo a Pablo Amaringo
O pintor e xamane Pablo Amaringo partiu para outros reinos.
Fica o tributo àquele que dedicou a sua vida aos outros e que, através das suas pinturas, permitiu que tenhamos um vislumbre do que são as dimensões da realidade que são acedidas nas sessões de Ayahuasca.
Tuesday, November 17, 2009
Uma viagem para outras Terras...
Olá a todos, vou relatar-vos um sonho lúcido que tive nesta ultima noite. Poderá ser interessante visto ser substancialmente diferente dos anteriores. O sonho lúcido surgiu devido a um reality check num sonho normal que já estava particularmente longo.
Estava a sonhar que conversava com algumas pessoas enquanto almoçava. Subitamente o empregado do restaurante retirou três facas e dois garfos da minha "parte" da mesa, então pensei: "se só deixou ficar cá o garfo (e não também uma faca), então é porque estou a sonhar..." Agora recordando o sonho, é engraçado como a constante mudança das mesas e até (a mudança) do rosto das pessoas não fez-me suspeitar que se tratava de um sonho; talvez porque estivesse demasiado focado na conversa, visto que, na "vida real" preciso de ter essa mesma conversa.
Nisto, toda a percepção sensorial que tinha no sonho começou a desvanecer. Vi-me num sitio absolutamente escuro com uma imensidão de pontos luminosos e a sensação de o meu corpo estar a arder (mas sem dor), algo muito semelhante a outras aventuras. Logo de seguida, os poucos luminosos desapareceram apenas no centro da minha visão, originando um circulo perfeitamente escuro. Sem nunca perder a consciencia, foquei-me nesse centro escuro e pensei: "eu sou este ponto". Ao dizer isso, o ponto ganhou uma terceira dimensão e criou-se uma espiral ou vácuo. Sem medo, e sabendo o que me esperava, projectei-me mentalmente para esse vácuo. A escuridão deu lugar a uma imensidão de cores psicadélicas e foi aí que pensei: "quero ir para o Egipto", mas o esforço não resultou em nada.
Isso fez-me perceber que não era eu que controlava a experiência e entreguei-me a ela. De repente, e sem esforço, vi um céu azul que de repente se tornou num cenário completo e perfeitamente real.
O cenário consistia numa cidade com prédios enormíssimos e, pelo aspecto bastante diferente dos nossos, eram altamente tecnológicos. Dei por mim montado numa aranha mecanica (ou era eu próprio a aranha mecanica) na face lateral de um dos prédios.
Esta experiência foi tão intensa que fez-me chorar de alegria. Passados momentos decidi voltar para trás. Senti a realidade desaparecer aos poucos, voltei a entrar no tunel e, sem esforço, cai no sonho normal.
Saturday, November 14, 2009
DMT: Levantando o Véu de Maya
Bem vindos àquele que é o 5º artigo sobre DMT. Este post será uma continuação directa do anterior.
Um dos aspectos mais intrigantes dos relatos das experiências de DMT é a visão das espirais de DNA e a sensação de estarem a ver os tecidos moleculares. Como o tamanho só existe por comparação(1), não seria de todo descabido equacionar o cenário de uma transferência de consciencia para um "nível" molecular, percepcionando-o como um universo completo. Como veremos de seguida, os relatos apontam para a existência de seres inteligentes nestes planos interiores.
Em praticamente todas as doses altas (a partir dos 0,2 mg/Kg) são relatadas experiências com seres alienisnas. Estes seres são descritos como sendo uma mistura de homens com abelhas, crocodilos, aranhas ou répteis. Tentam comunicar connosco tanto por linguagem, por gestos, por figuras e cores ou ainda directamente por sentimentos ou intuição. Existem ainda relatos em que esses seres tentam comunicar connosco através de equipamentos tecnológicos avançados.
A nível sonoro, os relatos também são interessantes. A maior parte das pessoas que submeteu-se ao estudo relatou que durante o efeito do DMT ouviu barulhos estridentes, choramingos e zumbidos, estilhaços, etc. Uma minoria afirma ter ouvido vozes ou musica. É bastante comum, principalmente nos relatos de Ayahuasca ou Salvia Divinorum, ouvirem-se vozes a dizerem-nos coisas como "não tenhas medo...", "deixa-te ir...".
Como já referi num artigo anterior, toda a pesquisa feita pelo Rick Strass teve como voluntários individuos com historial em substancias psicadélicas. Em parte, o objectivo era que as pessoas estivessem mais à vontade nas experiências, de preferência sem entrarem em pânico devido à mudança brutal de nível mental. Por outro lado, seria assim possível comparar os efeitos do DMT com substancias halucinogénicas.
É importante referir que em todos os depoimentos é dito que a experiência com DMT é radicalmente diferente das obtidas com LSD, cogumelos mágicos, etc. Ao contrário de em todas estas substâncias halucinogénicas, os voluntários dizem não ter perdido a consciência, a capacidade de focar-se em detalhes, a lucidez, e não tiveram a sensação de intoxicação inerente ao uso das outras drogas. Para finalizar o post, queria realçar ainda outro factor comum em todas as experiências, que foi a sensação de "more real than real", isto é, as experiências obtidas sob o efeito do DMT foram consideradas mais reais do que a realidade do dia-a-dia.
(1) Um átomo é, em si, grande ou pequeno? Só podemos dizer que é grande ou pequeno comparando-o com outra coisa qualquer. Se pararmos para pensar, um atómo até é bastante parecido com um sistema solar, mas isso é outra conversa...
Wednesday, November 11, 2009
Sob a influência do DMT
Olá, os próximos posts acerca deste tema serão relatos de experiências descritas no livro "DMT - The Spirit Molecule". Talvez um dia relate as minhas próprias experiências.
Em doses altas de DMT, cerca de 0,3 mg/kg, as visões psicadélicas surgem praticamente de forma instantanea. Seguidamente, vem a sensação que a mente separou-se do corpo e as emoções aumentam de intensidade. O pico da resposta ao DMT dá-se cerca de dois minutos após a injecção, e aos cinco minutos os voluntários sentem-se a regressar. A maior parte das pessoas sente-se à vontade para falar passados 12 a 15 minutos e, após 30 minutos, sentem-se completamente reestabelecidos.
Uma das respostas mais básicas do corpo à injecção é o aumento brutal do batimento cardiaco. O diametro da pupila também aumenta bastante, alías, como podemos ver em muitos videos de cerimónicas de Ayahuasca. A temperatura do corpo também aumenta bastante.
O efeito do DMT é considerado muitas vezes como sendo um ataque. Expressões como "freight train", "ground zero" ou "nuclear cannon" foram bastante vezes usadas para descrever a sensação inicial. Também é comum sentir a própria vibração do DMT: uma sensação de intensa energia rápida e vibracional em altas frequências. A vibração é tão elevada que dá a sensação que a cabeça vai estourar. De seguida, pode ou não haver perda de consciência mas, passado esse momento, vem a sensação de ausencia de corpo. É comum lermos que fica-se com a sensação de ausência de peso, flutuação, dissolução corporal, ou até de ser pura consciência.
Em seguida, começam as visualizações com padrões psicadélicos. Na pesquisa do Rick Strassman, optaram por colocar vendas nos olhos para que as visões originadas pelo DMT não se sobreponham à percepção distorcida da realidade. Pessoalmente, penso que esta questão só se põe até a pessoa "apagar" completamente, uma vez que com uma dose elevada, ninguém se lembra sequer de abrir os olhos, simplesmente porque já se encontra com eles (os interiores) abertos noutra realidade. Fazer isso seria a mesma coisa que agora, ao lerem este artigo, quererem abrir os olhos.
As visões psicadélicas são descritas como sendo padrões caleidoscópicos semelhantes à arte Maia, Asteca ou Islamica. As cores são descritas como mais brilhantes, intensas e profundas no que na realidade ou no mundo onirico. As imagens de fundo fundem-se com as de primeiro plano, dando assim uma perspectiva completamente diferente da que estamos habituados.
Seguem-se visões mais concretas e bem mais curiosas. Entre elas, estão as visões de uma enorme ave de fogo (a Phoenix?), a Árvore da Vida e do Conhecimento, tuneis, escadarias, e as mistéricas - mas muito recorrentes - espirais de DNA. Nas minhas leituras, achei extremamente intrigante como a maior parte das pessoas que se submeteram a esta investigação científica descreverem visões ao nivel molecular e do próprio DNA, mas isso será assunto para o próximo post.
Sunday, November 8, 2009
DMT e a glandula pineal
Olá a todos, este é o terceiro artigo do tema DMT.
Tanto as Tradições Místicas do Oriente como do Ocidente estão repletas de descrições de uma luz branca, fortemente luminosa, que está acompanhada de uma profunda realização espiritual. Esta "iluminação" é o resultado do progresso da consciencia ao longo de vários níveis espirituais, psicológicos e éticos.
No Judaísmo Esotérico estes níveis são denominados de Sefirot, sendo o mais elevado chamado de Keter ou "Coroa". Na Tradição Ayurvédica, entres centros são chamados de Chakras. O Chakra mais elevado também se denomina vulgarmente por "Coroa" ou "Lotus de mil pétalas". Em ambas tradições a localização da "Coroa" é considera a expressão, e ao mesmo tempo a prova da existência, da alma.
Nos animais mais antigos, como sendo os lagartos e os anfibios, a glandula pineal é também denominada de "terceiro olho", sendo um olho perfeitamente normal. À medida que o reino animal foi evoluindo, a glandula pineal foi posicionando-se cada vez mais para o interior do cranio, ao ponto de nos mamiferos, estar completamente emersa no cérebro. Nos seres humanos, a glandula pineal fica visivel ao final de sete semanas, altura pela qual se distingue o sexo do feto.
Uma tese bastante aceite diz que a glandula pineal produz enormes quantidades de DMT em momentos críticos da vida, sendo assim apontada como um orgão com caracter espiritual. Exemplos desses momentos são o nascimento, profundos estados de stress, meditação, experiências quase-morte e a própria morte. A glandula pineal é assim apontada como o portal por onde entra e sai o sopro de vida que nos anima.
Será realmente este "orgão dentro de outro orgão" o meio físico responsável por todos estes momentos criticos da nossa vida? Que relação terá tudo isto com as lendas dos grandes Ciclopes Lemurianos que, segundo contam as Tradições, tinham poderes parapsicológicos através do terceiro olho? Será à glandula pineal que os antigos egípcios se referiam alegoricamente com a serpente na coroa do Rei?
Saturday, October 24, 2009
O Simbolismo do Mundo Onírico
"Por vezes, os sonhos que recordamos são as nossas próprias tentativas para traduzir essa sabedoria mais profunda para um plano físico que possamos compreender." - Rick Stack
Hoje, como é sábado, deixei-me dormir até mais tarde para trabalhar deliberadamente nos sonhos. Recordo-me de, pelo menos, cinco sonhos que tive e, à pouco, deu-me um "flash".
Num dos sonhos estava no mar, num pequeno barco, a pescar. Como não estava a conseguir apanhar peixe decidi mudar de estratégia e então decidi colocar uma rapala de fundo. Para meu espanto, o sitio onde estava a pescar era anormalmente fundo. Com medo, até porque o barco era muito pequeno, decidi aproximar-me da praia. Ao chegar mais perto da praia olhei para o local onde tinha estado e apercebi-me que era um areal. Cheguei mesmo a fazer um lançamento para lá e a rapala, embora fosse de superficie, ficou "presa" na areia.
Podia ter aproveitado este facto para perceber que, se a profundidade do mar mudou tão bruscamente, então é porque tratava-se de um sonho; mas o objectivo deste post não é esse.
Será que este sonho foi uma alegoria, vinda de um plano ainda mais profundo, a tentar dizer-me que tudo na vida é mesmo assim: quando vemos de perto (e estamos a vivenciar a experiencia) tudo parece ser gigante e desmedidamente grande, mas se soubermos afastar-nos um pouco de nós próprios veremos que, afinal, o "dragão" não era assim tão temível?
Talvez os lançamentos simbolizem a própria acção. Se agirmos com demasiada próximidade (emocional e mental) da situação, sentir-nos-emos incapazes de lidar com ela. Mas se soubermos "pescar" ao longe, provavelmente vamos sentir-nos mais seguros.
O que acham? A discussão também esta aberta no blog Sonhos Lúcidos.
Monday, October 19, 2009
Dois sonhos lúcidos de vôo
Estou de volta para relatar dois pequenos sonhos lúcidos curtos que tive na madrugada do dia 18/10/2009.
Achei-os interessantes pois ambos trouxeram experiências intensas de vôo.
Se lembrarmos que alguns autores postulam que:
1) a probabilidade de o sonhador ter um sonho lúcido é maior após ter tido sonhos de vôo (lúcidos ou não);
2) que os sonhos de vôo e também os sonhos lúcidos são, na verdade, uma espéce de projeção astral.
Então creio que os sonhos abaixo possam ser interessantes para o leitor do Blog.
Observo que o relato foi escrito muitas horas após ter acordado e, por essa razão, acabei perdendo detalhes dos sonhos.
Primeiro sonho lúcido:
Estava andando em uma estrada ou rua, onde havia uma mureta de pedra à minha direita. Era noite e para além da dita mureta, havia uma espécie de precipício ou penhasco, dando para o mar, muito semelhante a algumas paisagens do sul da Itália ou de outros países do Mediterrãneo.
Estava com a Ivanise que, entretanto, no sonho, tinha a forma de uma criança ou bebê. Por alguma razão que não me lembro, joguei o bebê no penhasco e observo ele cair lentamente. Em seguida, eu mesmo me lanço pelo penhasco.
Devo observar que, não obstante não me recordar as razões para esses fatos, não se tratava de um ato criminoso, maligno ou suicida, mas havia algum propósito que não me recordo.
Ao me jogar, o penhasco fica ainda mais alto, formando uma espécie de "paisagem aérea" e passo a sentir e a notar com nitidez meu corpo em queda livre.
Nesse momento, talvez pelo medo, percebo que se trata de um sonho (sonho lúcido) e transformo a queda descendente em vôo horizontal, um vôo de alta velocidade.
Acordo.
Segundo sonho lúcido
Estou em um ambiente com muitas pessoas, suponho que uma Universidade. Saio por uma porta de vidro grande e agora estou caminhando pelo jardim. Percebo que há algo estranho, não porém no cenário, mas em mim mesmo, tal como se estivesse um pouco "aéreo", confuso e acho mesmo que não sinto muito o chão sob meus pés. Desconfio que possa ser um sonho. Resolvo, então, dar um pulo para tentar voar, mas não vôo. Entretanto, esse pulo teve uma trajetória insólita (quase um vôo) e, assim, acabou confirmando minhas suspeitas de que se tratava mesmo de um sonho.
Agora, já com a certeza de ser um sonho (sonho lúcido), lembrei-me de que minha irmã havia me contado no dia anterior (de fato, na vigília) acerca de um sonho em que ela voou velozmente para o céu, em trajetória ascendente, como um foguete. Lembrei-me também do relato de Oliver Fox sobre suas experiências de "skriyng" - em que ele se projetava astralmente para o céu. Tudo isso passou-me pela cabeça rapidamente, logo após dar-me conta de que estava sonhando.
Por isso, resolvo voar diretamente para cima, em direção às estrelas.
Embora não olhasse para baixo - pois não sei bem o porque, suspeitava que se o fizesse iria acordar - supunha que estivesse voando a grande velocidade, pois as nuvens no céu escuro já ficavem nítidas. Mantinha a concentração firme, no sentido de continuar voando para cima, como um foguete. Começo então a perceber algumas estrelas por entre as nuvens e, alguns instantes depois, mais estrelas, agora bem nítidas.
Concentro-me ainda mais para que o vôo seja ainda mais rápido (não obstante não olhar para baixo e nem mesmo sentir propriamente que estivesse voando, pois não havia sensação de vento etc), voando sempre na vertical, diretamente para cima.
Continuo a manter meus olhos nas estrelas, que agora são muito numerosas e começam a mudar de forma, formando nebulosas, como gases coloridos que se misturam ao seu brilho.
Resolvo virar-me e olhar para baixo e percebo que esse movimento inicia o processo de interrupção da experiência.
Já acordando, continuo a experimentar a sensação de flutuação (muito forte) e resolvo me acalmar e não abrir os olhos imediatamente, até que essa sensação cesse por completo.
Acordo.
Mais relatos de sonhos lúcidos em:
http://sonhoslucidus.blogspot.com/2009/10/dois-sonhos-lucidos-em-uma-noite.html
Friday, October 16, 2009
O que é o DMT?
Depois do artigo introdutório do novo tema aqui no Pyr Hermética, vamos hoje descrever o que é o DMT.
O DMT, ou N-Dimethyltryptamine é uma molécula que está presente em, virtualmente, todos os organismos vivos do nosso planeta, desde nos seres humanos, nos restantes mamíferos, animais, plantas, raízes, etc.
O DMT é a mais simples das triptaminas psicadélicas. É pouco mais pesada do que a glucose - o açucar mais simples dos nossos corpos -, pensado cerca de 188 unidades moleculares. Está intimamente ligado com o neurotransmisor psicadélico serotonina. Os receptores de serotonina estão espalhados pelo corpo, estando presentes nos vasos sanguíneos, musculos, glandulas e pele. O DMT afecta estes receptores de serotonina praticamente da mesma forma do que o LSD ou outras substancias psicadélicas.
É no cérebro que o DMT exerce um efeito mais curioso, visto ser neste orgão que estão localizados os receptores de serotonina que controlam o humor, as emoções e o pensamento. Ao contrário de todas as outras substancias psicadélicas, o cérebro transporta de forma natural o DMT por toda a rede sanguínea. Porém, o efeito do DMT é neutralizado em poucos segundos pelas enzimas MAO (monoamine oxidases). É precisamente pela presença desta enzima (MAO) principalmente nos orgãos ricos em sangue que o efeito do DMT é tão curto.
Por que o cérebro trata a molécula de DMT de forma tão natural, canalizando-a para lá das suas "defesas" naturais? O que faz o DMT no nosso corpo? Como veremos mais à frente, o DMT transporta-nos para realidades espirituais. Leva-nos para reinos normalmente invisiveis para nós e que são impossíveis de medir com os nossos actuais instrumentos. Será o DMT a molécula espiritual?
Monday, October 12, 2009
Novo tema no blog: DMT
Embora já tenha escrito um ou dois posts indirectamente sobre DMT (Dimethyltryptamine), vou iniciar um capitulo no blog sobre esse tema. Basicamente, a ideia é partilhar convosco algumas coisas sobre substancias psicadélicas e, em particular, sobre DMT.
Ao longo dos textos será usado o tempo "psicadélico" em vez de "halucinogénico". O termo "halucinogénico" dá enfase ao aspecto perceptual da substância, ou seja, aos efeitos visuais. Embora os efeitos visuais sejam comuns, não são os unicos, e talvez nem os mais importantes. As visões talvez cheguem a ser distracções para outros aspectos da experiência, tais como: o sentido profundo de espiritualidade, euforia, e a dissolução dos limites físicos do corpo. Por sua vez, o termo "psicadélico" remete para a ideia do que está dentro e na nossa mente: o nosso inconsciente.
Em jeito de introdução, o DMT é uma substancia psicadélica extremamente poderosa. O nosso corpo produz DMT de forma natural, principalmente em momentos de grande stress, como sendo o nascimento, a morte ou as experiências de quase morte.
Pensasse que a fonte natural do DMT é a glandula pineal que, de acordo com a Antiga Sabedoria e muita da pesquisa actual é a porta para outras dimensões da realidade. Sempre com base no trabalho de Rick Strassman e a sua obra "The Spirit Molecule", tentarei demonstrar que o DMT está intimamente ligado a estados alterados de consciência, obtenção de conhecimento por vias místicas, e até dos mediáticos "raptos alienisnas" que por vezes aparecem descritos.
No estudo levado a cabo pelo Dr. Stassman foram escolhidas sessenta pessoas, todas elas com historial em drogas psicadélicas. Vários foram os relatos em que disseram que o efeito causado pelo DMT nada nem que ver com o causado com drogas halucinogénicas: não sentiam intoxicação, nem a sua mente divagava. Sentiam-se perfeitamente conscientes e conseguiam direccionar a sua atenção para todos os pormenores que desejavam. Os relatos são interessantíssimos, e será necesse aspecto que deterei mais atenção nos futuros artigos.
O estudo da obra do Rick Strassman levou-me a uma profunda instrospecção abalando a minha concepção mental do Cosmos (micro e macrocosmos). Por que será que o nosso corpo inteiro produz DMT? Será coincidência que nos momentos criticos da nossa vida, o nosso corpo seja inundado desta molécula? Qual será o seu verdadeiro objectivo? Que realidades esconde?
Saturday, October 3, 2009
Um fogo para ti - parte III
-Não...- O sacerdote ergueu-se novamente segurando o ceptro prateado na mão direita, e batendo com ele no chão de pedra fez aparecer uma candeia doirada na mão esquerda - Há algo que podes fazer, algo que fará toda a diferença...
- Como?! - Arístocles estremeceu levemente; apesar de ser um díscipulo aceite no círculo dos Grandes Mistérios ainda não se acostumara a presenciar as materializações de objectos que Djehut realizara em algumas ocasiões, por razões necessárias.
- Quando o mar se ergueu como um colosso enfurecido, determinado a varrer a existência de uma nação inteira, uma nação que outrora o venerara, que carregara a sua essência e lhe oferecera hinos de louvor...havia apenas despaixão no coração do mar, não era a raiva enfurecida que o movia, mas sim sementes outrora plantadas... movia-se como um soldado de hierarquia sagrada, cego e surdo a tudo excepto à missão de que fora encarregue...por essa altura, já não era uma criança e a minha infância roubada afastava-se nas mãos do passado. Prisioneiro nas masmorras construídas ao nível do mar na península mais externa do continente, consegui nadar por entre os blocos de pedra quando a prisão foi submersa e destruída . Porém, a queda sucessiva de colunas, estátuas e pesados objectos não me permitia alcançar a superfície e acabei por perder os sentidos, acreditei que morreria e parei de lutar...Quando despertei novamente, vi o rosto da Sacerdotiza da Ilha dos Espelhos, inclinado sobre o meu...
- A Ilha dos Espelhos, a do oráculo do Tempo, a que aparece e se eclipsa nas brumas?
- Sim, essa.- o tom de voz de Djehut assemelhava-se agora a uma chuva cristalina de Verão e havia no seu semblante uma expressão onírica, de afastamento do mundo - Bastou aquele instante, que se estendeu para além do espaço e do tempo, para compreender....
O leve ruído de passos anunciou a presença de uma terceira pessoa: uma jovem mulher de longos cabelos negros que envergava uma túnica de linho fino e transportava um cálice contendo uma bebida quente feita a partir de ervas desconhecidas. Em siléncio, colocou o cálice à frente do filósofo, curvou-se ligeiramente perante o sacerdote em sinal de respeito e voltou a desaparecer na escuridão que envolvia o Templo da Espera.
- O que aconteceu então? - interrogou Arístocles, finalmente resignado à incapacidade de conter a curiosidade...["Vocês, os gregos, serão sempre crianças aos nossos olhos.."]
- Os seus olhos eram habitados por uma tremenda compaixão, suficientemente poderosa para abraçar toda a humanidade, naquele instante compreendemos a importância daqueles que carregam a responsabilidade de caminhar no limiar da viragem da Clepsidra da história. Esta candeia ardia acesa no centro do oráculo, “leva-a contigo", disse me ela...e "nesse lugar da terra onde o céu perdeu o horizonte acende um Fogo, um Fogo para mim" . Quando regressei ao local onde outrora se erguera a Ilha-Continente, apenas a mais elavada montanha da ilha de Poseidonis risistia sobre as àguas, nela reluzia a grande Pirâmide Branca, semelhante à que hoje vês. Os sacerdotes compreenderam o poder do símbolo que eu, proscrito e dado como morto transportava na alma mais do que nas mãos...
- Fosteis Iniciado na lendária Poseidonis?
O sacerdote sorriu com indiferença à admiração do filósofo:
- E quando o mar decidiu arrastar para as profundezas o último restício, da outrora intocável Atalantea, foi esta a chama que guiou as grandes barcas de sobreviventes até à minha terra-mãe.
- Vós sois então um verdadeiro... - balbuciou Arístocles, servido-se de todas as suas forças para dominar as intensas emoções que apaixonadamente tentavam controlar o seu pensamento e o seu discurso - Rei-Iniciado...
- E essa candeia é a minha espada e o meu escudo e essa chama não é outra senão a que ardia no templo da Ilha dos Espelhos, que entrego a ti esta noite, pedindo-te que no teu regresso, caminhes até esse lugar da terra onde o céu perdeu o horizonte e acendas um Fogo, um Fogo para mim. Arístocles, perdeu as palavras e o pensamento; naquele momento a sua mente habitava apenas a orla do inteligível...impossível de plasmar ou reproduzir no mundo das sensações. Pequenas gotas de lapis-lazuli resvalaram sobre o corpo despido de Neit, anunciando a madrugada.
- É hora! - advertiu Djehut falando apenas no plano mental do filósofo - E existem coisas que não esperam para toda a Eternidade, esperam apenas o tempo necessário. Com um sorriso capaz de fazer florescer as sementes escondidas no interior da terra após um Inverno rigoroso; o sacerdote recolocou a máscara doirada, e o seu corpo físico desvaneceu-se sob o véu da cúpula celeste dando lugar à sua manifestação etérea, espectral, assumindo a forma de um gigante Ibis azul que poisou no topo da Pirâmide Branca. Arístocles bebeu a poção de ervas deixada a seus pés e observou sem surpresa, o seu próprio corpo cair adormecido no chão do Templo da Espera. Leve como a luz do pensamento, avançou em direcção à câmara secreta da grande Pirâmide Branca, onde o Hierofante iria finalmente recebê-lo diante do altar das Verdades Últimas.”
***
“Tinham passado três longos meses desde que Arístocles regressara a Atenas e o magnetismo do entardecer chamara-o até ao mais elevado planalto da Acrópole no momento em que o disco solar se derretia languidamente no horizonte... Na mão direita, transportava acesa a candeia que Djehut lhe entregara e no olhar levava uma promessa. Ao erguer a pequena chama em direcção ao céu pode ver a imagem espectral de um íbis azul que voava em direcção a uma ilha perdida, oculta pela bruma cerrada, onde uma sacerdotiza aguardava pacientemente...
E em uníssono com a misteriosa voz do vento quente de Verão que lembrava as paisagens longíncuas do Nilo Azul, repetiu:
-Hoje caminhei até este lugar da terra onde o céu perdeu o horionte e acenderei um Fogo, um Fogo para Ti.”
Wednesday, September 30, 2009
Por que sonhamos?
Hoje vou deixar-vos com alguns excertos do livro Sonhos Lúcidos de LaBerge sobre os ciclos REM e NREM e algumas pistas sobre a resposta à pergunta "por que sonhamos?".
"Por que todos os mamíferos têm sono REM? É uma pergunta para a biologia evolucionária. Segundo as provas disponíveis, parece que o sono ativo ou REM apareceu há 130 milhões de anos, quando os primeiros mamíferos desistiram de pôr ovos e começaram a parir viviparamente (a cria nasce viva, não é chocada). Parece que o sono inerte, ou sono NREM, surgiu há aproximadamente 50 milhões de anos, quando os mamíferos de sangue quente começaram a evoluir dos seus antepassados reptilianos de sangue frio."
"A evolução do sono (e depois a do sonho) foi disseminada demais e teve um significado comportamental importante demais para ter acontecido por acaso; por isso, supõe-se que tenha ocorrido pelo mecanismo que Darwin tornou famoso, ou seja, pela seleção natural. A idéia é que só as variações genéticas que têm alguma probabilidade predominante de sobreviver são selecionadas pela evolução. Devido à variabilidade genética, na população de todas as espécies, numa época determinada qualquer, aparece uma faixa ampla de características." (...) "Como esse deve ter sido o caso do sono e dos sonhos, podemos supor que eles têm uma ou várias funções adaptáveis (ou seja, úteis)."
"Se você se lembrar que o sono NREM surgiu na mesma época em que os mamíferos evoluíram dos répteis, terá uma pista da função adicional do sono. Os répteis dependiam de fontes externas (essencialmente o sol) para manter uma temperatura corporal suficientemente alta para que pudessem tocar a tarefa de viver (principalmente alimentar-se, fugir e reproduzir)." (...) "Então é para isso (conservar energia) que temos o sono inerte; mas por que o sono ativo evoluiu e, com ele, o sonho? Indubitavelmente deve haver muitos bons motivos para isso, visto que esse estado tem muitas desvantagens. Para começar, enquanto você está sonhando, o cérebro usa muito mais energia do que enquanto está acordado ou no período de sono inerte. E mais: enquanto você está sonhando o corpo fica paralisado, aumentando muitíssimo a sua vulnerabilidade. De fato, para uma dada espécie, a quantidade de sono de sonhos é diretamente proporcional ao grau de segurança da espécie em relação aos predadores; quanto mais perigosa é a vida, menos a espécie pode se dar ao luxo de dormir."
"Dadas essas desvantagens, o sono ativo deve ter oferecido vantagens particularmente úteis aos mamíferos de 130 milhões de anos atrás. Podemos arriscar a mencionar uma vantagem, se lembrarmos que foi nesse ponto da história da evolução que as mães mamíferas deixaram de botar ovos e passaram a parir filhotes vivos. Que vantagens pode o sono activo ter oferecido às nossas ancestrais que eram mães? Creio que poderá encontrar a resposta ao se lembrar que os lagartos e pássaros que nascem de ovos chocados saem da casca suficientemente desenvolvidos para sobreviver por conta própria, se for necessário. A cria vivípara (da qual o bébé humano é o melhor dos exemplos) quando nasce é menos desenvolvida e, em geral, completamente indefesa. Nas primeiras semanas, meses e anos de vida os bébés vivíparos têm de passar por uma grande dose de aprendizado e desenvolvimento, especialmente do cérebro."
"Contrastando com a hora e meia que o adulto passa no sono REM todas as noites, um bébé recém-nascido, que dorme de dezesseis a dezoito horas por dia, tende a gastar cinquenta por cento desse tempo sonhando, ou seja, até nove horas por dia. A quantidades e a proporção do sono REM diminui no decorrer da vida, o que sugeriu a vários pesquisadores dos sonhos que o sono REM pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento do cérebro infantil, proporcionando uma fonte interna de estimulação intensa que facilitaria o amadurecimento do sistema nervoso e ajudaria a preparar a criança pata o mundo ilimitado de estímulos que logo terá de enfrentar."
Fica a questão em aberto para o caso de alguém ter coragem de debater. :)
Saturday, September 26, 2009
Nos limites entre a OBE e o sonho
Assim, de olhos fechados no sonho, associei essa idéia com o processo da morte ("Bardo", na terminologia budista) pensando no sonho:
"essa escuridão que vejo poderia ser o estado de morte, bastando estarmos conectados com o presente instante para que continuemos conscientes na morte."
E, como estava sonhando, com a mente bastante plástica, comecei a não sentir mais nada, ou melhor, fiquei consciente de que já não tinha corpo.
Aqui, foi como se o sonho tivesse se transformado em sonho lúcido, no qual sabemos que o corpo onírico não tem substância, matéria.
Então, diante da escuridão, senti meu corpo flutuar fortemente e tornei-me consciente de que poderia estar entrando em projeção astral.
Ou seja, curiosamente, foi como se o "Eu astral" recobrasse lucidez, a partir de um sonho não lúcido.
Em condições normais, ainda que sinta meu corpo flutuante, tenho enormes dificuldades em promover o descolamento dos corpos ("astral e físico", segundo a terminologia empregada por alguns), mas, nesse caso, como estava no ambiente onírico, quando pensei: "- Isso é o início de uma projeção e posso me levantar !" , imediata e facilmente me levantei, com a consciência precisa de que meu corpo físico teria ficado para trás (seja onde for, pois ainda estava sonhando e não tinha consciência precisa de que estava na cama).
Daí ocorreu uma coisa estranha: podia sentir meu corpo "astral" se movimentando, ficando de pé, agachado etc, porém não conseguia ver nada, tudo permanecia escuro. Estava bem lúcido sobre isso também e continuei tentando enxergar algo, mas só havia escuridão.
Por algum tempo me movimentava, porém nada de visões.
Até que, bem depois, uma imagem noturna apareceu, bastante turva. Era a janela da casa em que eu morava quando adolescente.
Sabendo que não estava no meu corpo físico (tal qual em um sonho lúcido), pulei para o parapeito da janela, que era bem alta, mas não sentia medo de cair no abismo, pois sabia que estava em um ambiente não-material.
Fiquei agachado ali (na verdade, de cócoras), como se fosse um pássaro ou um gato, olhando para baixo, bem na ponta.
Porém, não tive lucidez suficiente para perceber que o ambiente onírico estava, talvez, retomando o controle, ou seja, estava perdendo, a lucidez.
Esta questão é controversa, pois alguns autores, em especial Oliver Fox, afirmam terem se projetado muitas vezes lucidamente em um ambiente completamente onírico.
Enfim, começou um enredo de sonho e, não me lembro bem o porque, tinha ou quis efetuar um salto para a outra janela, uma manobra que agora julgava perigosa ainda que soubesse não estar no corpo físico (ou seja, estava perdendo a lucidez). Acabei saltando e, depois, o sonho transcorreu sem lucidez, pelo pouco que consigo me lembrar.
Essa experiência mostra que as fronteiras entre lucidez/imaginação dentro do ambiente samsárico não são nítidas. De fato, começa a ficar difícil definir com exatidão o que é vigília, sonhos ordinários, sonhos lúcidos, projeção astral etc.
Parece que é uma questão mais vibracional que ontológica, por assim dizer. É uma questão de intensidade e não uma fronteira nítida.
Sunday, September 20, 2009
Um fogo para ti - parte II
- Estais a dizer-me que vós sois um deles? Dos sobreviventes da Ilha-Continente? O relato que haveis feito na Casa do Vento Sagrado, é afinal uma recordação pessoal?- Arístocles levantou-se repentinamente e sem se aperceber começou a deambular pelo Templo da Espera, como se o movimento o ajudasse a compreender os novos paradigmas com que se confrontava. Não sou um deles...- sorriu Djehut- o meu pai era rei da terra que hoje pisas muito antes de ela ser conhecida por Egipto, antes das dinastias de faraós filhos do Sol! Sou filho de uma história oculta e desconhecida....- Não compreendo - retorquiu o filósofo, as mãos molhadas pela sede de saber...- Fui levado para Atalantea quando era ainda uma criança. Uma conspiração dos guardas do palácio permitiu o meu fácil desaparecimento durante a noite...Acreditaram que o meu pai cederia facilmente à chantagem entregando a última Pedra Solar que ainda não tinham conseguido obter, em troca da minha vida. Porém, ele manteve-se inamovível e a sua Vontade, impenetrável, pois sabia das consequência da utilização de tais artefactos... - Sentisteis-vos abandonado, pelo vosso próprio povo? -Eu era apenas uma criança Arístocles, mas de alguma forma sentia que a minha vida colocada na balança de Maat jamais pesaria tanto como a vida de milhares de pessoas da região do crescente...Foram-me infligidas penosas torturas, cada uma das quais o meu pai sentia diariamente no seu próprio corpo e que torturavam a sua alma, talvez mais do que a mim próprio. Mas, ainda assim, a sua posição não se alterou.- Tortura!?- gritou exasperado- A uma criança!!? Mas referisteis-vos à harmonia das suas construções, à sonoridade divina da sua música, aos elevados preceitos da magia cerimonial, ás sagradas dinastias de Reis-Alquimistas! Como foi possível...?- Não só possível, mas inevitável... O movimento lento e perpétuo da roda das Eras, é um poderoso veículo capaz de transmutar versos soltos em hinos dignos de um deus, mas também converte a mais explendorosa consciência, no mais obscuro e tenebroso dejeso de poder fomentado por um incomensurável egoísmo. Os olhos e ouvidos dos reis, ou seja os seus mais fieis servidores e conselheiros que deviam projectar a imagem da nação, passam a substitui-la pelo seu próprio ego e desejos pessoais. A pirâmide social deixa de ressoar, desde o topo até à base, e a melodia governativa do Estado-Ideal, converte-se num som estanque e oco. Como uma colmeia incapaz de suster as suas abelhas, a forma piramidal desintegra-se e transforma-se num pilar instável que pode vergar a qualquer momento...E tu sabes o que sucede às abelhas quando perdem a sua rainha e a sua colmeia. A sua fúria vira-se contra as da própria espécie, tal como uma praga, vagueiam pelos campos de flores sem qualquer objectivo. Outrora inofensivas abelhas melífluas adoptam comportamentos violentos semelhantes ao das estipes mais perigosas...- Então quereis dizer que é assim que a queda tem início? Quando se instala o culto à personalidade?- Quando os sacerdotes que servem um Ideal, focam a sua atenção nos unguentos que lhes cobrem o corpo, na qualidade do incenso que queimam no seu templo mas esquecem a voz dos elementos e mutilam com a sua futilidade o pacto que mantinham com o Fogo da Verdade...Assim foi o primeiro dos últimos dias.- Presumo que tal decadência moral tenha originado novas leis e códigos de conduta- acrescentou o filósofo incrédulo- Enganas-te- retorquiu o sacerdote- apenas uma reinterpretação dos mesmos à luz das suas mentes obscurecidas...- E encontraram nos outrora iluminados preceitos, uma possível justificação plausível para o caos que se instalou?
O peso da noite desértica adensava-se sobre ambos, e o fogo que ardia nas piras gigantescas projectava insólitas sombras nas paredes do templo que dançavam inquietas ao Som das Esferas..Djehut ponderou por alguns momentos , o seu rosto assolado por uma expressão de dor: - Para o Caos, para a submissão de todos os povos considerados menos "evoluídos", para os exércitos de homens sem alma e de criaturas meio-homem meio-animal, para as vozes dicidentes petrificadas e lançadas ao fundo do mar, para os elementais aprisionados sem mútuo acordo no coração de jóias mágicas. Não são as leis que moldam os homens Arístocles, mas sim a forma como estes se reveêm nelas e os olhos segundo os quais as encaram...Não são os ensinamentos que constroem o teu Estado-Ideal, são os seus habitantes que reúnem o conhecimento que a expansão da sua consciência lhes permite num determinado momento histórico. - Sinto-me verdadeiramente impotente então! - Arístocles cerrou os punhos num contido acesso de fúria divina.
Saturday, September 19, 2009
Filmes e séries: Hellsing
Olá a todos!
A sugestão desta semana é uma serie que tenho andado a ver. Chama-se Hellsing e retrata um mundo draconiano e vampiresco!
Segundo a Wikipédia, "Hellsing é uma série da Manga lançada em 1997 por Kouta Hirano.
O enredo passa-se na Inglaterra em 1999, que, ameaçada por criaturas sobrenaturais, é protegida pela Ordem Real dos Cavaleiros Protestantes, a Organização Hellsing.
Fundada e comandada pela família Hellsing há mais de 100 anos, a organização secreta é especializada em combater seres das trevas.
Liderada por Sir Integra Fairbrook Wingates Hellsing, dentre seus subordinados estão o mordomo e ex-combatente Walter C. Donez, a novata Ceras Victoria e o poderoso vampiro Alucard.
Nesse cenário, um conflito entre os protestantes da Hellsing e os católicos da Seção XIII do Vaticano, adiciona-se o renascimento de um velho inimigo, o grupo Millennium, responsável pela criação artificial de vampiros que propagam por todo Reino Unido. Millennium (fictício) foi um grupo, formado por vários oficiais da SS (Schutzstaffel), a elite das tropas nazistas. Destinava-se à pesquisa de vampiros, para que estes fossem usados em batalha pela Alemanha Nazista na 2ª Guerra Mundial."
- Página oficial inglesa.
- Trailer no Youtube.
- Wikipedia.
- Links para fazer download da série.
Por que nem todas as realidades são agradáveis...
Friday, September 18, 2009
Ciclos NREM e REM
Normalmente, ao lermos artigos sobre sonhos lúcidos encontramos com muita facilidade as palavras REM e NREM, mas nem sempre são explicadas. De forma quase telegráfica, vou tentar explicar o que são esses ciclos.
Em cada noite de sono, passamos em média cerca de uma hora e meia a duas horas a sonhar. Sonhamos uma vez a cada ciclo de 90 minutos. O tempo que passamos a sonhar vai aumentando durante a noite, começando em cerca de 10 até cerca de 45 minutos.
É-nos dito que existem cinco etapas de sono: quatro etapas de sono NREM, também chamado de "slow-wave sleep" e uma etapa de sono REM, ou "rapid eye movement". Os sonhos mais vividos e facilmente relembráveis ocorrem durante o sono REM.
As várias etapas NREM e REM são:
* (NREM 1) Esta primeira etapa assegura a transição entre o estado de acordado e o de sono. É nesta fase que as imagens caracteristicas do estado hipnogágico surgem. Normalmente dura apenas alguns minutos.
* (NREM 2) Durante esta fase, o corpo desliga-se gradualmente, e as ondas cerebrais tornam-se mais longas.
* (NREM 3) Acontecendo cerca de 30 a 45 minutos depois de adormecermos, é nesta fase que as ondas cerebrais do tipo delta são geradas.
* (NREM 4) O estádio, ou fase, NREM 4 é chamada de sono profundo ou de sono delta. O batimento cardiaco é minimo e é aqui que a actividade cerebral é mais reduzida. É neste ciclo que o sonambulismo ocorre.
* Depois da fase 4, os ciclos NREM invertem o sentido voltando à fase 2, e depois para o sono REM.
* Durante o sono do tipo REM a actividade cerebral é em tudo idêntica ao do estado de acordado. Se estiverem interessados nisto, sugiro que procurem por mais informação no livro "Sonhos Lúcidos" de LaBerge. Nesta fase o nosso corpo encontra-se paralizado, talvez para impedir que tenhamos os mesmos movimentos corporais que estamos a ter no sonho.
Depois do ciclo REM, normalmente acordamos momentaneamente. É comum esquecermo-nos disto quando acordamos de manhã. Se não acordamos, voltamos ao estágio NREM 2. Quando acordo depois de um ciclo REM, acho dificil memorizar alguma coisa para tentar lembrar-me depois de outro ciclo REM (por exemplo, quando acordo). Será por isso que não me recordo das vidas passadas?
Wednesday, September 16, 2009
VILD: Visual Induction of Lucid Dreams
Quando sentirmo-nos relativamente à vontade com o método das imagens, podemos passar para outro método chamado de “Visual Induction of Lucid Dreams”, por vezes também denominado de “Visually Incubated Lucid Dream”.
Esta técnica diz-nos que em primeiro lugar devemos ficar relaxados. Sentados, ou deitados, numa posição confortável devemos começar por relaxar os musculos da face e do maxilar. Normalmente as pessoas mais nervosas ou ansiosas mantêm o maxilar fechado, ficando assim em tensão; portanto, sugiro que abram um pouco a boca. De seguida, devemos relaxar os musculos do pescoço, seguindo-se os das costas e região lombar. Depois, devemos relaxar os musculos estomacais e em seguida os braços. Por fim, descontraímos o melhor possível as pernas.
Depois de atingirmos esse estado de paz e serenidade, como diz o Dr. Brian Weiss nas suas técnicas de regressão, devemos visualizar o nosso cérebro a ficar vazio e com sono. Agora, devemos visualizar um sonho que tivermos preparado anteriormente. Qualquer coisa como o que se segue:
"Estou num quarto com uma porta. Um amigo próximo de mim pede-me para mostrar-lhe o que é um teste de realidade. Faço os meus testes de realidade, que demonstram que estou a dormir, digo-lhe que estou a dormir, e dirigo-me para a porta.
Antes de visualizarmos o sonho, devemos saber exactamente como o sonho será. Pormenores como o tal amigo, as palavras exactas que serão usadas e os testes de realidade, são aspectos que devem estar mais do que planeados. É recomendado visualizar três vezes o sonho lentamente, para termos a certeza que sabemos todos os detalhes. Devemos visualizar o sonho através dos nossos próprios olhos, e não como se fossemos uma terceira pessoa. Se sentirmos os nossos pensamentos a afastar-se, simplesmente devemos ignorá-los e continuar com a visualização.
Quando realmente sonharmos com isto, não vamos notar nenhuma diferença, até chegarmos à parte dos testes de realidade. Mesmo já sabendo que estamos a sonhar, devemos continuar com o sonho que preparamos: agradecemos ao nosso amigo e depois seguimos em direcção à porta.
Uma ultima nota: se o exercicio de visualização manter-nos acordado, impedindo-nos de dormir, então devemos experimentar uma técnica diferente.
Coonvido-vos a partilharem connosco as vossas experiências relacionadas com o tema de hoje.
Sunday, September 13, 2009
Um fogo para ti - parte I
O vento quente do deserto ao qual se acostumara ao longo de três intemporais meses murmurava uma canção antiga emoldurando o céu nocturno numa dimensão etérea que haveria de permanecer para sempre gravada na sua alma. O ar da noite, denso de mistério assemelhava-se a uma deusa celeste, cujo corpo, delicadamente serpentado pelos fogos estelares emanava o profundo aroma de uma inevitável despedida.
Durante muito tempo, reflectira acerca da possibilidade de abandonar a sua apaixonante e tumultuosa Atenas para se deslocar à enigmática terra do Nilo AzuL e dos Mistérios últimos que se dizia ali serem ministrados aos discípulos aceites…Ao longo de grande parte da sua vida, desejara ardentemente expandir a sua consciência até à dimensão inteligível das Ideias Puras, por acreditar que dotado de tal poder seria digno de instruir um rei divino, capaz de plasmar uma nova idade de ouro nas ressequidas colinas do Peloponeso…
Porém, naquele momento, após ter provado o silencioso sabor do Nilo Cósmico, servido pelo próprio deus Hapi num cálice em chamas, interrogava-se acerca da coragem necessária para regressar a um estático mundo de sombras e palavras desprovidas de significado. Os aparentemente curtos meses que passara em retiro absoluto no templo de Amon, tinham-se convertido numa realidade construída fora do Espaço e do Tempo, como se décadas de anos terrestres por ele tivessem passado, transformando os pequenos anseios, medos ou dúvidas aos quais outrora chamara seus, em irreais grãos de areia que se desmaterializavam sob os seus pés. Cada noite passada na casa dos Ventos rodeado pelos murmúrios da voz do silêncio e pela dança das formas por eles originada, parecia ter-se convertido em anos ou séculos de experiências humanas, como se a cada respiração morresse e renascesse novamente, como se a cada piscar de olhos contemplasse todas as suas vidas num só instante e durante as curtas horas de sono tivesse sonhado com os mundos dentro e fora do seu próprio mundo, e com a história dos seus elementos e dos elementais que os regem.
Mas naquele dia, ao amanhace,r seria novamente um viajante grego em busca de conhecimento, um actor indistinto num anfiteatro corroido por jogos de poder e decadência de ideais...e até a beleza resplandecente dos capiteis e estátuas dos templos de Atenas não seriam mais do que miragens vazias, um cenário de mármore concebido para um pequeno acto na tragicomédia das Eras.
Todos os homens e os seus pequenos medos e inquietações, o seu egoísmo e incompreensão e até os gloriosos discursos incendiados pelas Musas, seriam apenas frutos da sua estação, efémera, redundante. No seu íntimo, tinha a certeza que nada poderia fazer para transformar os homens e as suas paixões narcisistas e passageiras à imagem das quais conduziam o mundo, a política, a moral....Desde muito jovem aspirara ao Reino Ideal na sua imaginação focada e dirigida. E finalmente vira a sua projecção diante dos seus olhos, no templo do Sonho - tocou nos seus portões e ouviu os seus sons etéreos... Na manhã seguinte restariam as memórias e o vislumbre das Verdades últimas. Naquela noite, a mais importante da sua vida, o momento pelo qual esperara durante mais de vinte anos, contrariava deliberadamente os ensinamentos acerca do "poder do presente imediato" e procurava anticipar-se ao futuro e encontrar forças para regressar a ele. "Seria mais fácil deixar-me perder no deserto", pensou. A escuridão da mente e o desejo de nela permanecer pareciam alimentar o Eu mais profundo dos homens e regressar à caverna quotidiana constituía um desafio maior do que todas as provas que superara ao longo da sua Iniciação.“
Djehut, o sacerdote da Casa do Vento e um dos seus guias no plano dos Grandes Mistérios percepcionou a sua inquietação, pousou o ceptro prateado e sentou-se nas escadas do Templo da Espera, encabeçado pelo sagrado Leão Humano, a gigantesca estátua que representava o "homem Divino" do principio dos tempos, conhecedor da Lei e capaz de a transcender e de se tornar Uno com Ela. Fitava o horizonte em silêncio, acompanhada pelo sacerdote de rosto velado pela expressiva máscara de ouro e pedras precisoas, que escondia o seu rosto,o seu olhar, a sua verdadeira alma, que de tão magnética e poderosa poderia assustar os homens, mesmo os candidatos a iniciados...
-Esse é de facto o teu último desafio, Aristocles! Escolher entre o natural, mas ainda assim, individualista caminho do Ego em prole da Sabedoria ou atravessar a ponte que desce da Verdade ao homem, da Sabedoria ao aprendiz imperfeito...
-Posso ter a possibilidade de instruir alguns homens, mas a menos que um rei nascido com o Fado Divino de inspirar toda uma nação deseje que eu partilhe com ele a Visão desse reino Ideal que agora consigo literalmente tocar no mais profundo tabernáculo de mim próprio, não possuo qualquer poder para transformar uma cidade-estado, nem sequer uma pequena aldeia...Se o implacável rumo das Eras conduz civilizações inteiras à sua total desintegração moral...
- Mas também à sua mais elevada expressão...- acrescentou o sacerdote
-Seja! Mas não desejo transformar- me numa estaca solitária no caminho da inevitabilidade, ou do rumo natural que obedece à grande Lei, ainda que rodeado de outras estacas semelhantes, serei engolido pelo peso da mão divina que se abate sobre uma civilização clamando o seu fim!
-A sua Transmutação....
- Como preferires... A sua TRANSMUTAÇÂO pela decadência de valores! Então serei uma pedra insignificante que procura subir a montanha quando esta se encontra prestes a ruir. Homem algum Vence uma montanha...sei do que falo, não sou um idealista inexperiente, as cicatrizes que trago nas mãos são marcas de guerra...